É Um Restaurante: aqui as refeições são feitas e servidas por quem viveu na rua
Chama-se É Um Restaurante e abriu portas a dia 1 de outubro de 2019, no número 56 da Rua de São José, em Lisboa. A missão? Oferecer comida e serviço de elevada qualidade e contribuir para a inclusão social e laboral de pessoas que já estiveram em situação de sem abrigo. O projeto social é da Associação CRESCER e foi um dos vencedores da última edição do programa FACES, da Fundação Montepio.
Em entrevista ao Ei, Américo Nave, diretor executivo da Associação CRESCER, explica como surgiu a ideia de criar o É UM RESTAURANTE, revela como tem sido a experiência e fala sobre os planos para o futuro.
A Associação CRESCER volta a ver outro projeto seu apoiado pelo programa FACES: o É Um Restaurante. O que representa mais este apoio para a CRESCER e para o novo projeto?
Este apoio é de extrema importância para a CRESCER, e mais especificamente para o projeto É Um Restaurante. O projeto tem a pretensão de ser um negócio social, autossustentável ao fim de dois anos, que contribua para a diminuição do estigma e preconceitos que existem em relação às pessoas que se encontram em situação de sem abrigo.
Sendo a CRESCER uma Associação sem fins lucrativos, seria muito difícil ter conseguido avançar com este projeto caso não tivesse o apoio de parceiros como a Fundação Montepio, através do Programa FACES.
Conte-nos um pouco da história do É Um Restaurante. Como surgiu a ideia de colocar pessoas em situação de sem abrigo a fazer e servir comida ao público? Por quê esta resposta para ajudar estas pessoas? O que pretendem atingir?
Ao longo dos anos, tem existido uma cultura de intervenção com as pessoas em situação de sem abrigo muito focada no assistencialismo, não dando uma resposta efetiva às suas necessidades. Se, por um lado, são necessárias respostas de emergência (como dar comida, um teto provisório ou roupa), são necessários também, por outro, projetos que se constituam como respostas efetivas e eficazes na erradicação das situações de sem abrigo, dando às pessoas apoios e ferramentas que lhes permitam dar esse passo. Consideramos que já existem muitas respostas do lado da emergência e muito poucas do lado da prevenção, da habitação e do emprego.
Quando pensamos neste projeto, pensamos em derrubar alguns dos mitos e estigmas associados a este grupo da população, nomeadamente no que diz respeito às suas competências relacionais e profissionais. Pretendemos, através de uma abordagem focada na vertente profissional, promover a melhoria das condições de vida e a inclusão social dos beneficiários do projeto.
Como foi o processo de recrutamento destas pessoas? Quais foram os critérios para a sua seleção?
A CRESCER reuniu com Instituições parceiras, privadas e públicas, que trabalham com pessoas em situação de sem abrigo, a quem apresentámos o projeto. Nesta sequência, criámos canais para sinalização das pessoas acompanhadas por entidades parceiras.
Foram sinalizadas várias pessoas, por essa via, mas também de outros projetos da CRESCER e houve ainda candidaturas por iniciativa própria.
O único critério era que as pessoas tinham de estar ou ter estado em situação de sem abrigo. Nas entrevistas, o que valorizámos mais foi a motivação para integrar um projeto com as características do É Um Restaurante. Foram selecionadas pessoas que ainda viviam na rua, pessoas que estavam em albergues, em quartos, em casa de familiares e de amigos. Felizmente, algumas destas pessoas já mudaram a sua situação habitacional para melhor. Quando o projeto se iniciou, já nenhuma pessoa vivia na rua, fruto já do trabalho da psicóloga do projeto, em conjunto com outros parceiros.
O É Um Restaurante conta com um chef de renome, Nuno Bergonse. Como conseguiram esta colaboração?
A relação entre o Nuno Bergonse e a CRESCER iniciou-se em 2016, através de uma pessoa que trabalhava connosco (Paula Cosme Pinto) e com o Nuno, já com a perspetiva de colaboração neste projeto. Entretanto, durante o hiato temporal até à implementação do É Um Restaurante mantivemos sempre uma relação próxima e o Nuno acabou por se envolver e colaborar de forma muito ativa num outro projeto de cozinha que temos com requerentes de asilo e refugiados, o Marhaba.
Abriram portas recentemente. Como tem sido a experiência?
Está a ser uma excelente experiência e uma aprendizagem diária para todos – tanto para os beneficiários do projeto como para a nossa equipa técnica, para quem esta área é nova. Temos tido excelente feedback das pessoas que vão ao É Um Restaurante. Mas também vamos percebendo no dia a dia as coisas que podemos melhorar. Felizmente temos tido casa cheia, com o feedback de a comida ser muito boa.
Quais são os planos para o futuro?
Temos dois principais objetivos e ambições em relação a este projeto – que o mesmo cumpra a sua função, isto é, que contribua efetivamente para a inclusão social e laboral dos seus beneficiários e que se torne autossustentável.
Para que estes objetivos se tornem alcançáveis, pretendemos oferecer um serviço e comida de excelência. Temos a ambição de que o restaurante chame as pessoas.
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