STFP: “A igualdade de oportunidades ainda é um desafio”

Leia a entrevista com os responsáveis do Serviço Técnico de Formação Profissional (STFP) da Madeira, e conheça o projeto que lhes valeu o Prémio Voluntariado Jovem Montepio 2023.
Artigo atualizado a 08-08-2024

O respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e a defesa pela igualdade de oportunidades. O projeto “De mãos dadas” assenta nestes dois pilares, permitindo que jovens formandos da Madeira “lutem em igualdade de circunstâncias com os seus congéneres no mercado de trabalho”. A explicação é do Serviço Técnico de Formação Profissional da Direção Regional da Madeira: a entidade que venceu a 13.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio. Descubra, na primeira pessoa, como a iniciativa vai ajudar pessoas com deficiências e incapacidades.

Como surgiu a ideia para o projeto “De mãos dadas”?

O projeto “De Mãos Dadas” parte, por um lado, da empatia dos profissionais que o desenharam, já que envolve mover-se no interior do mundo do outro sem julgamentos, sem crítica, estar sensível aos seus sentimentos, compreender o seu mundo como ele próprio o compreende. Por outro, deriva dos grandes eixos que dão corpo a este projeto: o empowerment, a valorização pessoal, a participação ativa dos jovens formandos e o combate à exclusão social.

[Tudo isto acontece sob o pressuposto de que] o Serviço Social deve refletir os ideais de humanismo e democracia, com valores que radicam na igualdade e dignidade de todos.  Pela vulnerabilidade a que estão sujeitos, os jovens formandos requerem, sobretudo, profissionais capazes no exercício da Advocacia Social e Capacitação: [neste caso, os profissionais do STPF].

Quem faz parte da equipa que dá vida a este projeto?

O projeto será dinamizado, com orientação técnica, pelos formandos do Serviço Técnico de Formação Profissional, inscritos nas ações formativas de Cozinheiro/a (curso 2023/2026), Mecânico/a de Serviços Rápidos (curso 2023/2026) e Empregado/a de Mesa (curso 2022/2025). Serão beneficiários diretos do projeto 37 formandos (29 do sexo masculino e oito do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 16 e 24 anos, provenientes dos vários concelhos da Região Autónoma da Madeira.

Na candidatura, referiram que o projeto pretende “atuar em várias frentes que têm bloqueado a participação e inclusão da população”. Que frentes são essas?

A grave conjuntura económica que Portugal enfrenta nos dias de hoje conduz indivíduos e famílias a situações de grande vulnerabilidade social e económica. A pobreza entra na vida dos indivíduos como uma epidemia, levando-os a diversas carências, incluindo necessidades alimentares.

O projeto “De Mãos Dadas” pretende intervir para além da área de prevenção, atuar em várias frentes que têm bloqueado a participação e inclusão da população numa sociedade que se diz inclusiva. É necessário intervir junto dos jovens para que não se tornem vítimas destas estruturas vulneráveis, dando-lhes a oportunidade de, em primeiro lugar, sonhar, e, em segundo lugar, desenhar o seu lugar na sociedade, com base no conhecimento e exercício pleno dos seus direitos. É preciso fazer com que o jovem acredite num futuro melhor, um futuro ensolarado, e que é possível lá chegar, com recuos e avanços sucessivos.

Por que razão a iniciativa “De mãos dadas” escolheu intervir na faixa etária dos jovens?

O STFP enquadra-se institucionalmente como uma das respostas dirigidas a Pessoas com Deficiências e Incapacidades, cuja qualificação profissional rege-se por um Referencial de Formação Adaptado. Tendo como alvo jovens com idade superior a 16 anos, foi possível integrar o projeto na categoria de Candidaturas Espontâneas. Pretende-se com isto, através das diferentes áreas de formação, direcionar os jovens para uma prestação de serviços à comunidade, executando tarefas e fazendo com que se sintam membros de um grupo social, que partilha normas, valores e crenças.

De que forma o projeto consegue ainda prevenir comportamentos de risco?

Os problemas sociais que afetam os nossos formandos são multidimensionais, isto é, estes indivíduos não têm apenas fome, têm também desânimo perante a vida, baixa autoestima, alguma saúde fragilizada, entre outros handicaps. Neste sentido, através de atividades como a divulgação, confeção e empratamento de alimentos, execução do serviço de mesa e limpeza de veículos na própria escola de formação (STFP), pretende-se reabilitar as capacidades e competências sociais dos jovens.

Com estas atividades, fomenta-se a participação dos formandos, valorizando-os enquanto detentores de conhecimento e competências do saber, do saber fazer e do saber estar. Pretende-se, ainda, promover formas saudáveis de ocupar os tempos livres, sensibilizando para as consequências dos comportamentos de risco.

Existe uma lista de estabelecimentos interessados para receber o trabalho voluntário dos jovens? Como é estabelecido esse contacto com os estabelecimentos?

Não, não existe de momento uma lista de estabelecimentos interessados. Esse contacto apenas será estabelecido aquando do início da implementação do projeto, ou seja, de acordo com o nosso cronograma, essa divulgação às entidades parceiras está prevista para o mês de julho.

Destacamos como recursos externos: a comunidade em geral e entidades como a Secretaria Regional de Educação Ciência e Tecnologia, Direção Regional de Educação, Junta de Freguesia de São Roque, Centro Comunitário do Galeão, Centro Social e Paroquial de São Roque, Escola de Condução Alternativa, entre outras.

Quais são os próximos passos para ser possível implementar este projeto?

Após a elaboração do projeto de intervenção social “De Mãos Dadas”, foi preciso orçá-lo, antecipando os meios necessários para o seu desenvolvimento e como serão aplicados num dado período. O orçamento refere-se à estimativa de todos os custos envolvidos na sua execução: materiais e mão de obra, despesas administrativas e outras despesas indiretas.

Foi fundamental realizar uma planificação financeira detalhada para garantir a viabilidade do projeto e evitar imprevistos ao longo da sua execução. [Agora], é importante acompanhar de perto a execução do orçamento e fazer os ajustes necessários para garantir o seu sucesso.

Que papel desempenha o Prémio Voluntariado Jovem Montepio para que a implementação aconteça?

Através do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, pretende-se dar a conhecer o Serviço Técnico de Formação Profissional à comunidade, assim como as ações que dinamizamos com os formandos enquanto escola. [Dessa forma, é possível mostrar] o que efetivamente conseguem produzir enquanto cidadãos ativos [e que estão aptos para] prestar um serviço de qualidade e confiabilidade, bem como garantir uma prática sustentável e responsável. [O objetivo é] promover a diversidade e a inclusão em ações de mercado, onde a igualdade de oportunidades ainda é um desafio.

Quais são as principais dificuldades que esperam encontrar na implementação do projeto?

Como principais dificuldades para a implementação do projeto, apontamos o orçamento previsto inicialmente para a sua realização. Uma vez que os custos e financiamento de uma proposta vão ao encontro do tipo de serviço requisitado/prestado e podem variar consoante a incorporação de serviços e/ou elementos, da carga horária de trabalho e número de prestações de serviço (por profissionais), o valor indicado é assim uma estimativa geral, não o valor real. Outra dificuldade que poderá surgir é a fraca participação ativa dos envolvidos no projeto e eventuais entraves nas relações.

Quais são as expectativas em relação à duração do projeto? Por enquanto será apenas algo piloto ou a ideia é que fique por muitos anos?

“De Mãos Dadas” foi criado com largo entusiasmo pelos principais intervenientes na área social, pelo caráter inovador apresentado, pelos problemas sociais que visa atenuar e, acima de tudo, pelo impacto e pela mudança social perspetivada, tanto a nível micro como a nível meso.

Findo o período de implementação do projeto, será feita a respetiva avaliação e, caso se verifique interesse e condições para a continuidade do mesmo, as atividades serão retomadas no próximo ano civil/letivo e assim sucessivamente, sempre que se justifique.

Como foi receber a notícia de que eram os vencedores?

Foi com enorme orgulho e entusiasmo que, pela segunda vez, o STFP se viu distinguido pelo Prémio Voluntariado Jovem Montepio. Em 2021, venceu com o projeto PULAS e, recentemente, na 13.ª edição, venceu com o projeto “De Mãos Dadas”. Os três jovens indigitados no projeto nem podiam crer que este prémio estava a acontecer e era real.

Deseja-se que o projeto “De Mãos Dadas” proporcione a estes formandos vivências reais, que são uma ajuda fundamental para a vida em sociedade e, mais tarde, para a entrada no mundo do trabalho.

Se queremos realmente atingir a mudança social, torna-se essencial uma ação concertada de esforços com a comunidade. Hoje, é consensual percecionar que o bom funcionamento da escola inclusiva está dependente da modificação das práticas e das atitudes que os profissionais de educação e toda a comunidade educativa têm face à diferença, pois estamos a lidar com Pessoas com Deficiências e Incapacidades.

Sobre a 13.º edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio…

Desde a sua primeira edição, este prémio da Fundação Montepio tem financiado projetos de voluntariado social, ambiental, cultural e proteção animal. Em 2024, a Direção Regional da Madeira conta com 2 000 euros e cada participante da equipa tem um apoio de 300 euros para dar vida ao projeto “De mãos dadas”. A implementação deverá acontecer num prazo de seis meses, sujeita a prorrogação de meio ano em caso de necessidade fundamentada. Saiba mais, aqui.

 

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