Quanto tempo aguentam as suas finanças numa emergência?

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vida tem armadilhas. Uma situação de doença, desemprego ou uma despesa imprevista podem pôr em causa as suas finanças. Saiba se tem poupanças suficientes para responder a uma emergência financeira e como criar um fundo de maneio à prova de imprevistos.

Há cinco anos, Marta Silva (nome fictício) recebeu a notícia que nenhuma mulher quer ouvir: foi-lhe diagnosticado um cancro da mama. A doença estava no estágio inicial, porém era necessário começar os tratamentos imediatamente. Consciente da lista de espera para obter cuidados no SNS (Serviço Nacional de Saúde) e dos custos envolvidos caso optasse pelo privado – muitos dos quais não estavam cobertos pelo seu plano de saúde –, Marta decidiu recorrer ao fundo de emergência.

A poupança foi feita ao longo de várias décadas, à espera de ser utilizada num momento de necessidade. Hoje, após vencer a batalha, não se arrepende da decisão. “Não era esse o destino que tinha previsto para o dinheiro, mas a vida é assim”, afirma Marta.

Até ao dia em que descobriu a sua doença, Marta Silva, de 54 anos, esperava nunca ter de mexer no fundo de emergência. Sabia que estava lá para alguma eventualidade, mas, na sua mente, este era um cenário muito distante. A verdade é que a vida está repleta de surpresas – e nem todas são agradáveis. Uma doença grave, uma situação de desemprego prolongado ou um acidente de automóvel que implique uma reparação com uma despesa elevada podem ocorrer a qualquer momento. É a capacidade de responder a essas situações que faz a diferença.

Os portugueses estão preparados para um imprevisto financeiro?

Segundo a quarta edição do Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, realizado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), cerca de 68% dos entrevistados afirmam ter capacidade para pagar uma despesa inesperada de montante equivalente ao seu rendimento mensal sem terem de pedir dinheiro emprestado ou serem ajudado por familiares ou amigos.

O que aconteceria, no entanto, se perdessem a sua principal fonte de rendimento? Durante quanto tempo conseguiriam cobrir as despesas sem recorrer a empréstimos ou mudar de casa? Neste caso, cerca de metade dos entrevistados aguentaria prazos superiores a três meses. Porém, apenas 20% afirmam conseguir pagar as despesas durante mais de seis meses.

As conclusões deste estudo não são dramáticas. No entanto, muitos portugueses não possuem uma almofada financeira para enfrentar períodos prolongados de dificuldades económicas. E as suas finanças, estão preparadas? Vamos descobrir.

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Regra n.º 1: Ter uma reserva financeira

Um fundo de emergência – o pé-de-meia, como diriam os nossos avós – é uma poupança reservada especificamente para urgências financeiras. “O propósito desta poupança é a tranquilidade para as emergências que irão acontecer. Porque vão sempre acontecer”, afirma Andreia Melo, fundadora do projeto Contas em Dia.

Segundo a especialista, o fundo de emergência deve conter entre três a seis meses das despesas obrigatórias. “Não estou a falar de um jantar fora ou de comprar roupa. São as despesas que os adultos funcionais têm de pagar”, prossegue. Suponhamos que tem despesas obrigatórias no valor de 1 000 euros. Neste caso, as boas regras ditam que o fundo de emergência contenha entre três a seis mil euros de poupança. “Vamos pensar nisto como se fosse um mealheiro digital, que só é para quebrar em caso de emergência.”

Em alguns casos, pode ser necessário adaptar este valor. No caso dos trabalhadores por conta própria ou trabalhadores independentes, é aconselhável um fundo de emergência maior. “São os seus próprios patrões. Em caso de doença, de quebra de faturação ou até uma pandemia, é preciso ter um balão de oxigénio maior”, afirma Andreia Melo. Neste cenário, aconselha-se que o fundo de emergência cubra um ano de despesas.

Regra n.º 2: A poupança deve ser “invisível”

A segunda regra de ouro para ter umas finanças à prova de imprevistos é nunca deixar esse dinheiro na conta à ordem. Porém, existem alguns cuidados a ter. O montante não deve estar aplicado num produto que seja de difícil acesso ou que implique grandes penalizações para ser resgatado. “Tem de estar guardado de modo a que, repentinamente, possa mexer.”

O segredo está em encontrar um equilíbrio. O dinheiro deve estar “invisível” o suficiente para não cair na tentação de o gastar no dia a dia, mas também disponível para ser mobilizado rapidamente quando necessário. Existem vários produtos que permitem que o dinheiro cresça sem correr grandes riscos, mas possa ser resgatado a qualquer momento. Por exemplo, todas as soluções do Montepio Associação Mutualista têm flexibilidade no momento do reembolso, ainda que possam estar sujeitas a eventuais penalizações.

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Regra n.º 3: Antecipe os “falsos imprevistos”

Quando se trata de pensar na resiliência das finanças pessoais, é importante distinguir as despesas esperadas das inesperadas. “Muitas pessoas tratam alguns assuntos como imprevistos”, explica a especialista em finanças pessoais. “Por exemplo, o IMI da casa não aparece para pagar. Isto não existe. É falta de planeamento”, prossegue.

Assim, é necessário deixar de olhar para as contas mês a mês e planear o ano. “As despesas não são iguais todos os meses. Nuns gastamos mais, noutros menos.” A sugestão de Andreia Melo passa por fazer um calendário anual, que discrimine todas as despesas que não são mensais, como os seguros, o IMI, o IUC, o IRS, a manutenção do automóvel, o regresso às aulas, a Black Friday, a Páscoa, os presentes ou as festas dos filhos. “Nós chamamos-lhe o calendário OMG – Oh my God porque as pessoas assustam-se após fazerem este exercício. A maioria não tem noção de quanto gasta nas despesas que não são mensais.” Os “falsos imprevistos”, como apelida Andreia Melo, devem ser planeados para não ser necessário recorrer ao fundo de emergência para pagá-los. “O fundo de emergência serve para os verdadeiros imprevistos da vida”, remata.

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Como fazer um fundo de emergência?

Se está a ter dificuldade em começar o seu fundo de emergência, dê-lhe um boost inicial. A sugestão é de Andreia Melo. “Sugerimos sempre começar com um desafio em casa: estar três meses sem jantar fora ou comprar roupa e poupar esse dinheiro.” Aperceber-se que consegue poupar é bastante motivador, principalmente quando vê o dinheiro a crescer. “Esta dica é fantástica, resulta sempre.”

Em alternativa, a especialista em finanças pessoais recomenda que venda objetos que tem em casa, em bom estado, e não necessita. “Temos um caso de uma mãe solteira que, quando se apercebeu do conceito do fundo de emergência, pensou ‘eu não tenho e preciso de ter’. Fez uma limpeza em casa de coisas que tinha da filha que estavam em bom estado e vendeu-as. Em dois meses fez 1 500 euros. Ela tinha 1 500 euros guardados em casa em formato de brinquedos e de roupinhas que já não usava.” Siga, também, estas dicas para fazer o seu fundo de emergência.

1. Calcule as despesas mensais obrigatórias

O primeiro passo é perceber qual o valor das suas despesas obrigatórias – os gastos recorrentes e que não podem ser evitados e são necessários para garantir o funcionamento básico de uma casa e o bem-estar da pessoa ou da família. As principais despesas obrigatórias são: habitação (renda ou prestação de crédito), serviços (água, eletricidade, gás e Internet), alimentação, transporte, saúde e seguros obrigatórios. Esta será a base para calcular quanto deve poupar.

“Quando se apercebeu do conceito de fundo de emergência, uma mãe fez uma limpeza de coisas da filha que estavam em bom estado e vendeu-as. Em dois meses fez 1 500 euros”

Andreia Melo, consultora financeira

2. Apure o valor do fundo de emergência

O primeiro passo é perceber qual o valor das suas despesas obrigatórias – os gastos recorrentes e que não podem ser evitados e são necessários para garantir o funcionamento básico de uma casa e o bem-estar da pessoa ou da família. As principais despesas obrigatórias são: habitação (renda ou prestação de crédito), serviços (água, eletricidade, gás e Internet), alimentação, transporte, saúde e seguros obrigatórios. Esta será a base para calcular quanto deve poupar.

3. Defina quanto consegue poupar por mês

Após identificar as despesas obrigatórias e estabelecer o montante ideal para o seu fundo de emergência, o próximo passo é definir quanto pode poupar mensalmente. A recomendação mais comum é que coloque de lado 10% do rendimento mensal, ou seja, se recebe 1 200 líquidos por euros por mês, deve poupar 120 euros todos os meses.

Se esta percentagem não for viável, qualquer valor constante é um bom começo. “Mesmo uma poupança de 5%, 3% ou até 1% pode ser suficiente para dar início ao fundo de emergência”, explica Andreia Melo. Lembre-se de que o objetivo principal é criar o hábito de poupar regularmente. Quanto mais disciplinado for, mais rapidamente conseguirá atingir o montante desejado.

4. Trate a poupança como uma despesa obrigatória

Para garantir que o fundo de emergência cresce de um modo consistente, é importante encarar a poupança como uma despesa obrigatória, tal como a renda, a água ou a eletricidade. “Um dos principais objetivos é que a poupança exista e seja constante. É a criação de um hábito. No dia que recebo vou lá pôr os 10, os 20 ou os 30 euros na conta de poupança”, prossegue a especialista em finanças pessoais.

Se não consegue ter a disciplina necessária, opte por programar a sua poupança, ou seja, dar uma ordem à instituição onde tem o dinheiro para todos os meses, assim que recebe o ordenado, transferir o montante desejado para a poupança. É uma forma “indolor” de poupar.

Três cenários: o fundo de emergência é suficiente?

João – recém-formado, solteiro, 25 anos

Rendimento mensal: 1 200 euros líquidos.
Despesas mensais obrigatórias: 1 000 euros.
Poupanças: 2 000 euros.
Dívidas: Nenhuma.
Fonte de rendimento: Salário de um emprego a tempo inteiro.

O João tem uma poupança equivalente a dois meses de despesas fixas. Se perder o emprego, pode manter o seu estilo de vida durante dois meses antes de ficar sem dinheiro.

Recomendação:

  • Estabelecer um objetivo de poupança de, pelo menos, 3 000 euros.
  • Considerar fontes adicionais de rendimento, como trabalho freelance.
  • Configurar uma transferência automática mensal para uma conta poupança dedicada.

Carla e Miguel – casados, 32 e 34 anos, um filho

Rendimento mensal conjunto: 3 500 euros líquidos.
Despesas mensais obrigatórias: 2 800 euros.
Poupanças: 10 000 euros.
Dívidas: 80 000 euros (crédito à habitação).
Fontes de rendimento: dois salários a tempo inteiro.

Com uma poupança de 10 000 euros e uma dívida de 80 000 euros, o casal conseguiria cobrir as despesas durante três meses e meio em caso de uma emergência.

Recomendação:

  • Aumentar o fundo de emergência para 20 000 euros, o equivalente a seis meses de despesas.
  • Verificar se têm modalidades de proteção adequadas, que cubram situações de desemprego ou de invalidez temporária.
  • Fazer pagamentos adicionais ao crédito à habitação para reduzir a dívida total.

Marta – Trabalhadora independente, 45 anos, divorciada, dois filhos adolescentes

Rendimento mensal variável: entre 2 500 e 4 000 euros.
Despesas mensais obrigatórias: 3 000 euros.
Poupanças: 15 000 euros.
Dívidas: 10 000 euros (empréstimo pessoal).
Fonte de rendimento: trabalho independente.

A Marta tem despesas fixas no valor de 3 000 euros e uma poupança de 15 000 euros. Se ficasse impedida de trabalhar, poderia cobrir as suas despesas durante cinco meses.

Recomendação:

  • Aumentar o fundo de emergência para 36 000 euros.
  • Diversificar a carteira de clientes para garantir que não depende apenas de um.
  • Avaliar as despesas obrigatórias e ver onde pode cortar ou otimizar.
  • Focar-se em pagar a dívida do empréstimo pessoal para reduzir os encargos mensais.

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