Como ensinar a poupar na infância

Transmitir estratégias de poupança aos mais novos é fundamental para lhes incutir responsabilidade na gestão do seu dinheiro.
Artigo atualizado a 09-05-2023
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Ensinar a poupar. Esta é uma tarefa dos pais que não deve ser descurada. Tem filhos pequenos e sente que chegou o momento de abordar com eles o tema da poupança, mas não sabe por onde começar? Conheça histórias inspiradoras sobre estratégias de aforro para os mais novos.

Ensinar a poupar desde cedo

“O conceito de poupança é muito conhecido em nossa casa”, começa por contar Maria Ângela Gomes, mãe de Maria, de 9 anos, e de Matilde, de 11 anos. A gestora de comunicação revela que, desde cedo, incutiu hábitos de poupança às suas filhas. “Desde pequeninas que lhes falo em poupança. Como este é um tema que abordamos em família, apesar da sua tenra idade não estranham o conceito e até são as primeiras a referir que o dinheiro que habitualmente recebem nas épocas festivas é para juntar”, partilha.

Dinheiro aplicado, mealheiro e mesada

“Maria e Matilde têm dinheiro aplicado em modalidades mutualistas de que são titulares, para quando forem crescidas”, partilha a mãe. Além dessa poupança maior, as duas irmãs têm, cada uma, o seu mealheiro, para guardar pequenas quantias que vão arrecadando e que gostam de ver crescer.

“Faço ainda com elas o exercício de lhes atribuir uma mesada simbólica. Desta forma, ensino-lhes o valor do dinheiro, o que custa ganhá-lo e por que razão se deve poupar. O dinheiro gasta-se com muita facilidade e precisamos dele para quase tudo”, frisa.

Matilde sorri e confessa, orgulhosa: “O dinheiro que recebo no aniversário e no Natal está todo numa poupança. É uma espécie de mealheiro grande onde estão guardadas todas as minhas poupanças. Para além desse dinheiro, o que recebo de mesada guardo num mealheiro mais pequeno em casa. Gastei-o pela primeira vez para comprar presentes para os meus pais quando estive de férias em Londres. Agora, estou a juntar para comprar uns ténis de que gosto muito e que são muito caros. Eu sei que se poupar consigo juntar mais dinheiro para comprar algo que eu queira”.

“A minha mãe está sempre a falar em poupar. Acho que desde que nasci”, sublinha, por sua vez, Maria, a irmã mais nova. Também o seu dinheiro está quase todo aplicado numa poupança da Associação Mutualista Montepio. Em casa tem apenas “o mealheiro pequenino”, onde guarda o dinheiro que vai juntando da mesada. “A minha mãe dá-me todos os meses três euros de mesada. Se eu juntar, ao fim de um ano consigo amealhar 36 euros. E se não gastar, depois de alguns anos consigo juntar ainda mais”. Do alto dos seus 9 anos, conclui: “Se não pouparmos, não temos dinheiro. É preciso trabalhar muito para ganhar dinheiro. E depois é preciso não gastá-lo todo. Por isso, eu poupo o que me dão”.

Economizar no dia a dia

Na sua missão de ensinar a poupar, Maria Ângela Gomes estimula as filhas a economizar no dia a dia. Matilde e Maria já “ajudam a selecionar os produtos mais económicos no supermercado e nas lojas, poupam na água e na eletricidade e reciclam roupa e brinquedos”, exemplifica. “A minha mãe está sempre a alertar-nos para não desperdiçarmos. Lembro-me do primeiro dia em que disse que não me apetecia jantar. A minha mãe não me deixou comer mais nada até ao dia seguinte. E serviu-me, ao pequeno-almoço, o que eu não quis jantar no dia anterior”, recorda Matilde.

Ensinar a poupar na escola

A poupança também pode (e deve) ser promovida na escola. Ensinar a poupar não é uma tarefa exclusiva dos pais. E é isso que Isabel Martins, educadora de infância há quase 30 anos, faz com as crianças que ajuda a educar.

Estratégias de poupança

A primeira estratégia a que Isabel Martins recorre para ensinar hábitos de poupança é promover espaços e momentos de conversação onde se debate este tema. “Muitas crianças, quando chegam ao jardim-de-infância, pensam que o dinheiro dos pais não tem fim e vem dos multibancos, portanto está sempre disponível. São muito poucos os pais que explicam que do seu ordenado se tem que pagar muitas contas”, partilha a educadora.

Outra das estratégias que aplica com as crianças é evitar o desperdício de recursos que façam parte do seu quotidiano, como alimentos, materiais, eletricidade, água, entre outros. A partilha de recursos é também uma forma de estimular o aforro entre os mais pequenos.

Para incentivar a poupar, Isabel Martins promove o contacto com o dinheiro e com a aquisição de bens e serviços em sala de aula e em visitas de estudo. Na escola, a educadora de infância recorre ao jogo simbólico, vulgarmente conhecido como “faz de conta”, com a instalação de mercearias, lojas e cabeleireiro, onde as crianças simulam situações do quotidiano. Fora do ambiente escolar, em idas ao supermercado, cafés e mercearias, elas são responsáveis pela aquisição de bens, para depois desenvolverem uma atividade na escola. “Fazer um bolo, por exemplo”, avança.

Isabel Martins introduz ainda o conceito de mealheiro, “associado a campanhas de solidariedade em que se poupa ou se solicita ajuda para um bem comum ou para uma causa solidária”.

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