"Dar asas e ensinar a voar". Que projeto social é este?
Quando um jovem sai de casa dos seus pais é importante que leve na bagagem algumas capacidades sociais e competências práticas de autonomia. Estas ferramentas são essenciais para ditar o sucesso desta nova aventura e fazer com que, em situação de emergência, saibam responder melhor aos desafios que a vida lhes coloca. A Cruz Vermelha Portuguesa, delegação de Vale de Cambra, sabe-o melhor do que ninguém e, por esse motivo, tem em marcha o projeto “Dar asas e ensinar a voar”, destinado aos jovens com mais de 16 anos.
Tal como o nome indica, o projeto destina-se a preparar os jovens que estão prestes a sair da Casa de Acolhimento (CAR), para que sejam capazes de viver de forma autónoma. A ideia será concretizada através da criação de uma Ala de Pré-Autonomia, dentro das instalações da CAR, “um miniapartamento onde os jovens possam simular, de forma mais próxima possível da realidade, o que é viver sozinho”, explica José Roque, responsável da delegação de Vale de Cambra da Cruz Vermelha Portuguesa.
Cozinhar, gerir e limpar
O projeto destina-se aos jovens acolhidos com mais de 16 anos, cuja saída da CAR se vislumbra a médio ou curto prazo. Nesta altura, será realizada uma avaliação diagnóstica de cada jovem e, com base nesse relatório, será definido um “conjunto de atividades de formação e promoção de competências de vida, numa metodologia feita à medida, de treino intensivo e individualizado e centrado no empowerment do jovem”, prossegue o responsável.
Pretende-se, assim, que aprendam a cozinhar, a fazer compras, a gerir o seu orçamento, a tratar da roupa, a gerir o tempo, a recorrer aos serviços quando necessário, a pagar contas, a poupar, a arrumar e a limpar a casa. “Enfim, tudo aquilo que um adulto independente e a residir sozinho tem de saber fazer”, afirma.
“Crianças têm cada vez menos retaguarda familiar”
A ideia para o projeto ‘Dar asas e ensinar a voar’ nasce da identificação de uma “mudança significativa no perfil das crianças e jovens acolhidas”. Tal como explica José Roque, as problemáticas estão mais complexas do que há uns anos e as “crianças têm cada vez menos retaguarda familiar ou, quando é existente, é mais frágil”.
Esta fragilidade sociofamiliar faz com que seja mais importante trabalhar a futura independência destes jovens. “A autonomia é uma transição de vida que traz uma série de desafios pessoais, mas que, no caso de jovens acolhidos, aumenta exponencialmente”, explica José Roque. Se não forem devidamente orientados e acompanhados, as suas vulnerabilidades emergem: “mais problemas de saúde física e mental, menos sucesso académico, mais dificuldade no acesso ao emprego, falta de suporte familiar ou inadequabilidade”, prossegue.
“Este financiamento vai permitir-nos avançar já com este sonho”
O programa FACES – Financiamento e Apoio para o Combate à Exclusão Social, da Fundação Montepio, vai contribuir com 2 000 euros para a realização deste projeto. “Este financiamento vai permitir-nos avançar já com este sonho”, explica. O valor será utilizado nas obras de readaptação de duas salas, transformando-as em quartos com duas camas, e a criação de uma cozinha e copa.
O objetivo é que, dentro de um ano, os jovens que integraram o projeto saiam para o mundo, “com um conjunto de ferramentas e aprendizagens consolidadas, com uma atitude mais segura de si, confiantes e que alcancem uma integração social mais plena e satisfatória”.
Cruz Vermelha, Delegação de Vale de Cambra, em 3 pontos:
- Já existe desde 1983 e desenvolvem duas respostas sociais: Casa de Acolhimento Residencial (CAR) e o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS).
- A CAR acolhe vinte jovens do género masculino, com idades entre os 12 e os 18 anos, do distrito de Aveiro, a quem foi aplicada uma medida de promoção e proteção de acolhimento residencial pelo Tribunal de Família ou CPCJ.
- O SAAS, conhecido por Gabinete de Apoio à Família e Comunidade, apoia famílias em situação de carência económica residentes em três freguesias do concelho de Vale de Cambra. No ano de 2018, teve em acompanhamento 151 processos de Ação Social, dando apoio a 337 beneficiários.
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