Projeto Sentidos: caminho para a autonomia de jovens
O projeto Sentidos, lançado em janeiro de 2017, sob a tutela da Santa Casa da Misericórdia de Almada, abrange jovens e alguns ex-residentes do Lar D. Nuno Álvares Pereira, uma casa de acolhimento no âmbito da proteção de menores com lugar para 45 crianças e jovens em regime de internato. “A ideia é prepará-los para a vida futura. Apoiá-los no processo de independência e promover a inserção com sucesso na comunidade”, explica Liliana Silva, responsável por esta iniciativa multifacetada, que recebeu o Financiamento e Apoio para o Combate à Exclusão Social (FACES) da Fundação Montepio.
Aprender no terreno para motivar
O atual grupo de participantes integra rapazes e raparigas, com idades compreendidas entre os 17 e os 21 anos. Com histórias de vida difíceis, é na casa de acolhimento que estes jovens encontram a proteção e o apoio que lhes falta nas famílias de origem inseridas em contextos disfuncionais. “Neste ambiente, a promoção da autonomia assume ainda maior importância, devido à ausência de uma rede de suporte familiar ou de retaguarda”, acrescenta a assistente social.
A formação para a autonomia fundamenta-se na teoria, mas também na prática, integrando tarefas do quotidiano e outras que serão úteis para o futuro, de modo a estimular a motivação e a capacidade de os jovens serem independentes. São trabalhadas competências em seis áreas principais: bricolage, empregabilidade, cidadania, serviços e burocracia, gestão orçamental e doméstica, saúde e nutrição.
Um dos rapazes que integra o projeto Sentidos, Daniel, de 19 anos, afirma que a formação está a ser muito útil e refere uma experiência em que fez sucesso como chef de cozinha. “Fiz uma massa à carbonara de que todos gostaram muito.” Na área de nutrição, os jovens aprendem não só a cozinhar, como também as bases de uma alimentação saudável. Nesta temática, é igualmente considerada a gestão do orçamento. São os próprios jovens que fazem as compras para confecionar as refeições. “Com o que aprendi sobre alimentação saudável fiquei motivado para comer de forma mais equilibrada”, sublinha o Daniel. Este jovem está no lar desde os 12 anos de idade e atualmente frequenta um curso profissional na área multimédia.
Na área da empregabilidade, todos os jovens do grupo participaram num exercício prático: simulação de uma entrevista de emprego conduzida por uma pessoa desconhecida. Com vista a terem êxito na inserção no mercado de trabalho, aprenderam também a fazer um currículo e a interpretar um contrato de trabalho.
Parceiros e voluntários unidos para dar sentido à autonomia
Para permitir que os jovens tenham acesso ao mundo real, o projeto Sentidos decorre em parceria com as mais diversas entidades e com a ajuda de vários voluntários, como uma nutricionista ou uma jurista. “Desenvolvemos, por exemplo, aptidões na área dos serviços e burocracias. Explicamos o que é o IRS e alertamos para a necessidade de possuírem os documentos pessoais atualizados”, sublinha Liliana Silva.
A responsável pelo projeto Sentidos explica ainda que os jovens são avaliados em cada sessão ao nível das competências sociais e pessoais, por exemplo, quanto à pontualidade, motivação, iniciativa e participação. Ao nível teórico, é aplicado um pré-teste, que é repetido no final dos módulos.
Os atuais participantes terão a missão de ajudar os novos elementos que integrarão o segundo ano do projeto (abrange o período de 2018-2020).
Para que os conhecimentos transmitidos perdurem no tempo, será criado um Manual de Sobrevivência. A ideia é a que cada jovem leve este manual consigo quando deixar o Lar D. Nuno Álvares Pereira, podendo consultá-lo sempre que necessitar.
O projeto inclui um acompanhamento dos jovens após a formação, para perceber se, na prática, conseguem aplicar o que aprenderam. Tudo para que vivam a sua independência com estabilidade.
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