Boomerang employee: 7 dicas para regressar ao seu antigo trabalho
Raquel Póvoas, especialista em comunicação, era feliz na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Estava efetiva, mantinha uma boa relação com a equipa e fazia o que gostava. No entanto, estava demasiado confortável e precisava de uma motivação extra. “Sentia que era muito difícil chegar a um cargo de maior responsabilidade e, por consequência, ao retorno financeiro desse mesmo cargo”, conta a especialista de comunicação e marketing ao Ei.
Em 2016, Raquel decidiu trocar a produção de notícias e reportagens na FCUL por uma aventura numa empresa espanhola que estava a implementar-se, nesse ano, em Portugal”. “Não tinha o objetivo de regressar” à FCUL, explica. Mas como nunca se deu bem com a palavra “instabilidade”, decidiu sair através de uma licença sem vencimento. Os colegas organizaram uma grande festa de despedida. “Houve champagne, um cabaz de petiscos e garrafas de vinho com o rótulo Colheita FCUL 2012.”
Passado um ano, Raquel regressou à casa da partida, tornando-se uma boomerang employee. A expressão é anglo-saxónica identifica os colaboradores que regressam ao antigo empregador.
Boomerang employee: um fenómeno em ascensão
Embora não haja estatísticas que o comprovem, o fenómeno parece estar em tendência crescente em países como os Estados Unidos e talvez mesmo em Portugal, como analisa a coach de carreira Lourdes Monteiro. O contexto justifica-o. O padrão do “emprego para a vida” desapareceu e a maior mobilidade aumenta a possibilidade de retorno ao mesmo empregador.
Outro dos motivos prende-se com a situação demográfica atual que gerou uma “guerra pelo talento”. Por fim, continua Lurdes Monteiro, as “mudanças nas formas de trabalho, potenciadas pelo desenvolvimento tecnológico e até pela pandemia”, abriram novas possibilidades de relação com os empregadores.
Para muitos potenciais boomerang employees, fica a pergunta. Voltar ao antigo empregador não é uma regressão na carreira? Em que circunstâncias se pode considerar esta hipótese? E o que se deve ter em conta num possível retorno ao antigo empregador?
7 dicas para ser um boomerang employee de sucesso
1. Seja profissional até ao último dia
Não deixe que eventuais atritos e dissabores emocionais corrompam as relações profissionais. Como diz a coach Lourdes Monteiro, é preciso “sair de forma profissional de qualquer relação profissional”. “Se sair bem da organização, isso aumenta em muito a possibilidade de vir a regressar mais tarde”, lembra. Ao sair, não se devem descurar as boas práticas: “informar pessoalmente a chefia da intenção, fazer uma passagem de pasta exemplar e manter a transparência para que a organização crie condições mais favoráveis à satisfação dos seus atuais e futuros colaboradores.”
2. As pessoas são a chave
A relação que Raquel Póvoas tinha com os colegas de trabalho da FCUL foi um fator crucial para que a especialista em comunicação ponderasse o regresso. “São sempre as pessoas e as relações que me trazem entusiasmo”, realça. No centro dessas relações vive a interação com as chefias. “Agradeço ao meu chefe o facto de ter estado sempre atento ao meu caso. Fui alertada para os meus direitos e fui recordada dos timings a cumprir para que, se fosse o caso, pudesse regressar.” Esta porta aberta e a manutenção do contacto com antigos colegas são fundamentais para que exista a possibilidade de regresso.
3. Volte, mas não ao mesmo
As razões para alguém querer um novo emprego podem variar muito. Desde a motivação no local de trabalho à falta de progressão de carreira, passando por mudanças na vida pessoal ou pelo surgimento de uma oportunidade imperdível. Segundo Lourdes Monteiro, o profissional pondera regressar ao trabalho quando se vislumbra uma oportunidade aliciante. “O mais frequente é o regresso à organização num novo papel profissional ou função, com maior nível de autoridade e responsabilidade. Essa pode ser inclusive uma estratégia intencional de gestão de carreira: sair de uma organização que não consegue cumprir com as expectativas profissionais desejadas a dado momento, nomeadamente a progressão de carreira, e regressar quando essas condições estejam finalmente reunidas”, enquadra a responsável. Segundo a boomerang employee Raquel Póvoas, só faz sentido regressar “se existirem condições para que haja valorização profissional, crescimento pessoal e financeiro e se o acordar de manhã não for um peso”.
4. Certifique-se de que os motivos do regresso estão bem definidos
“Regressar a uma organização é um passo acertado quando colaborador e empresa têm vontade de retomar essa colaboração por motivos alinhados entre si”, sublinha Lourdes Monteiro. No entanto, deixa o alerta para casos em que o trabalhador regressa por “promessas vãs” e entra, por isso, numa situação de frustração. “Há que ver para crer. Faz parte de uma estratégia de gestão de risco pedir detalhes por escrito e não acreditar em nada à primeira. Investigar antes de tomar a decisão e reunir o máximo de evidências que permitam ao profissional concluir sobre o alinhamento entre as suas motivações e as da organização.”
5. Conheça a evolução da empresa desde que saiu
Se um profissional muda durante o seu percurso, também a organização se transforma na ausência do colaborador. “Há que entender de que forma evoluiu para que o colaborador possa atuar construtivamente perante essas mudanças”, aconselha a coach e psicóloga. Por outro lado, no regresso, é sempre aconselhável uma postura de humildade. “Não convém que se seja visto como a “pessoa sabichona”. Geralmente, isso poderá fazer com que os outros percecionem que os considere pouco conhecedores ou menos válidos.”
6. Prove que o seu regresso vale a pena
Mostre que a sua experiência noutra organização pode ser uma mais-valia para o empregador. Por mais que já o conheçam, o antigo emprego será agora um novo emprego, pelo que terá de brilhar para que o queiram de volta. Por outro lado, quando voltar, potencie novas relações e tenha um olhar fresco sobre a organização, evitando velhos hábitos de comportamento, como “almoçar ou consultar-se com as mesmas pessoas de outrora”. Como explica Lourdes Monteiro, “isso aumenta o risco de se ser percecionado como alguém que, afinal, regressou no seu anterior papel e não no novo que agora abraça”.
7. Tenha uma atitude positiva
É importante que, no regresso, “se construa uma narrativa focada nas competências e experiências que quis angariar e não em queixas em relação à primeira colaboração”, nota Lourdes Monteiro. Na visão de Raquel Póvoas, experiências resultam em aprendizagem e maturidade. “Havia coisas que me irritavam aqui (no emprego da FCUL) em tempos e que deixaram de me perturbar. Tudo foi treino e aprendizagem. É preciso sair da ilha para ver a ilha”, analisa a profissional, lembrando José Saramago.
Os conteúdos do blogue Ei – Educação e Informação não dispensam a consulta da respetiva informação legal e não configuram qualquer recomendação.
Este artigo foi útil?