Evite estas decisões financeiras irracionais
Quando recebeu o Nobel da Economia, em 2017, Richard Thaler garantiu que iria gastar o valor do prémio – cerca de um milhão de euros – da forma mais irracional possível. A resposta pode ser encarada por uma dupla perspetiva: a humorística e a irónica. É que a visão de Thaler, professor da Universidade de Chicago Booth School of Business e coautor do livro Nudge, liga a economia à psicologia, admitindo que as pessoas não são sempre racionais e que as suas escolhas têm por base questões subjetivas e culturais.
Não sabemos se o economista seguiu a sua promessa. Mas é certo que um grande número de decisões financeiras é determinado pelo nosso inconsciente, despertando o lado Homer Simpson que há em nós. Comprar o que não precisamos, deixarmo-nos levar pelas campanhas e pelos brindes ou não pensar no futuro são alguns dos exemplos de decisões financeiras irracionais que deve evitar. Mas há mais.
Como evitar tomar decisões financeiras irracionais
Drible a armadilha dos descontos
As campanhas agressivas de promoções e descontos introduzidas, nos últimos anos, pelas cadeias de supermercados e marcas alteraram o consumo em Portugal. Quem estiver atento a estas ofertas consegue poupanças significativas, conseguindo comprar grande parte dos produtos de que necessita por um preço bastante inferior.
De acordo com os últimos estudos, perto de metade das compras dos portugueses são realizadas em promoções. Mas há́ uma consequência. Estas campanhas podem levá-lo a comprar o que não precisa. Ofertas “leve dois, pague um” ou descontos de 50% podem parecer fazer sentido. No entanto, equacione se realmente precisa desse produto em dose dupla ou, caso se trate de um produto perecível, não vai acabar por estragar-se. Esta é certamente uma das decisões financeiras a evitar.
Cuidado com os brindes e outras “ofertas”
As marcas têm várias estratégias para captar a atenção dos consumidores. Quando uma campanha é acompanhada por um brinde ou um produto grátis é preciso avaliar o real valor do produto. Pois muitas vezes a oferta é paga, no preço do produto original, pelo consumidor. Como evitar cair no engodo? Acompanhe a evolução dos preços e faça uma comparação com o valor aplicado na promoção e fora dela.
Segundo Alexander Coutts, professor assistente de Economia da Nova School of Business e especializado em economia comportamental, as empresas conseguem “criar pontos de referência (como preços de retalho artificialmente inflacionados) para oferecerem vendas com grandes descontos”. Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos, vai um pouco mais longe. “Sabendo que existem erros de perceção e enviesamentos que resultam de um modo mais automático e menos consciente na tomada de decisão, quem concebe uma campanha para vender um produto utiliza técnicas que se baseiam nesse conhecimento e aplica-o diretamente na atração e condicionamento dos clientes”, explica.
Não deixe que escolham por si
Há cada vez mais pessoas a fazerem compras pela Internet. O comodismo e a facilidade de realizar negócios online tem atraído cada vez mais portugueses. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 37% das pessoas entre os 16 e os 74 anos a residir em Portugal realizaram compras online em 2018. Se é adepto deste tipo de compra esteja atento às opções que lhe aparecem no computador. “Quando, numa compra online, um produto ou serviço se encontra por defeito já selecionado para aquisição, a tendência do cliente é, em muitos casos, manter a pré-seleção e finalizar a compra sem a alterar”, alerta o bastonário da Ordem dos Psicólogos. Por isso, antes de confirmar uma aquisição garanta que o produto é o que procura e se é, de facto, a solução mais barata.
Evite as compras por impulso
Imagine que uma das suas resoluções de final de ano foi começar a fazer desporto. De repente, decide inscrever-se no ginásio ou comprar uma bicicleta nova. Também pode ter decidido que vai passar a cozinhar mais em casa e diversificar as suas refeições e, por isso, compra um robô de cozinha. Mesmo que leve as suas resoluções avante, deve evitar tomar decisões financeiras por impulso. Se quer comprar um robô de cozinha, comece por identificar o que melhor se adapta às suas necessidades. Verifique, depois, se tem campanhas promocionais associadas. Caso esteja disposto a esperar pode poupar um valor significativo.
Vai comprar casa? Pense bem
Comprar casa é uma das decisões financeiras com maior impacto na vida de uma família. A contratação de um crédito com o banco exige um compromisso de várias décadas. Por isso esta é uma decisão que tem de ser bem avaliada. “Dada a aceleração no mercado imobiliário em Portugal, os consumidores que recorrem ao crédito devem ser muito cuidadosos ao considerarem os riscos de longo prazo associados à subida das taxas de juro”, alerta Alexander Coutts. “Devem focar-se não apenas nos pagamentos realizados hoje, mas também nos pagamentos do futuro, que provavelmente serão mais elevados.” Além do impacto da normalização dos juros nas prestações, é importante ter em conta que, caso daqui a uns anos pretenda vender o seu imóvel, os preços podem ser inferiores.
Não deixe para amanhã o que pode poupar hoje
É do conhecimento geral que o sistema de pensões não conseguirá manter, no futuro, o nível de vida a que as pessoas estavam habituadas enquanto ativas. Para ter uma ideia de quanto irá receber aquando da sua reforma, pode simular o valor da sua pensão no simulador da Segurança Social.
Mas, caso queira manter o estilo de vida a que está habituado, cabe-lhe a si colmatar a perda de rendimentos que terá. “Os trabalhadores portugueses devem verificar quanto estão a poupar por defeito nos planos de pensões e calcular até que ponto isto lhes basta”, refere o docente da Nova School of Business. Apenas começando a poupar desde cedo poderá garantir um bom pé-de-meia para a reforma.
Não se foque só no curto prazo
Muitos portugueses esforçam-se para pouparem alguns euros por mês. Contudo, é preciso pôr a render este dinheiro. Não basta deixá-lo parado no banco. Mesmo que não queira correr grandes riscos, analise opções de poupança de baixo risco, mas com taxas de rendibilidade que lhe permitam pôr a sua poupança a crescer.
Invista com a cabeça, não com o coração
Racionalidade é coisa que não existe nos mercados financeiros. São raras as pessoas que resistem a momentos de pânico ou de euforia nas bolsas, o que origina decisões financeiras irracionais, como vender ações quando estão a afundar ou comprar após um longo período de ganhos. Por outro lado, os investidores tendem a “preferir investimentos em ações de empresas que lhes sejam mais familiares, tendo mais riscos face a produtos combinados ou híbridos, nos quais o risco seria mais reduzido”, refere Francisco Miranda Rodrigues.
Corte as amarras dos contratos
Seguros, telecomunicações, energia. São vários os contratos que todos os meses consomem uma parte importante dos nossos salários. Se os contratos com as operadoras de telecomunicações tendem a ser renegociados – quando estão fora do período de fidelização –, com outros não há a mesma sorte. É o caso dos contratos de água, luz ou gás, mas também dos seguros, que por preguiça ou inércia tendem a manter-se os originais. No entanto, ninguém é forçado a manter o mesmo seguro. Basta querer e procurar outro que lhe ofereça melhores condições. Um conselho: não se esqueça de ler as letras pequeninas para se certificar de que faz uma troca inteligente.
Renegoceie o IMI
Para quem é proprietário de imóveis, o imposto sobre imóveis (IMI) é uma fatura pesada. Mas existe uma forma de a reduzir. Como? Pedindo à Autoridade Tributária (AT) a reavaliação do Valor Patrimonial Tributário (VPT) do imóvel, um dos dois elementos que entra na fórmula de cálculo do IMI. Mas antes de avançar, deve simular o VPT. O ideal é fazê-lo a cada três anos. Se nunca pediu a reavaliação do VPT, talvez esta seja a altura ideal. Para pagar menos IMI no ano seguinte, deve fazer o pedido até 31 de dezembro.
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