Como estes 3 casais fazem a gestão do orçamento

Como gerem os casais as suas finanças pessoais? Fomos à procura de respostas e encontrámos três visões diferentes. Conheça-as.
Artigo atualizado a 15-07-2021

Falar sobre dinheiro não é fácil para a maior parte dos casais e o desgaste provocado por discussões sobre finanças leva à rutura de muitos relacionamentos. Em Portugal, esta é, aliás, a segunda razão mais invocada no momento de assinar os papéis do divórcio. Mas é possível viver “feliz para sempre” cumprindo algumas regras básicas da gestão do orçamento comum. Conheça as histórias de três casais, com visões diferentes sobre a gestão das finanças pessoais.

Rodrigo e Maria

Rodrigo e Maria são o casal mais novo dos três, ambos com 26 anos, casados de fresco: “Foi há pouco mais de um ano”, dizem com ar enamorado e já com Domingos, de três meses, entre os dois. No que diz respeito à gestão do orçamento, cada um tem uma conta própria e há uma terceira para as poupanças. Mas não são, “de todo”, contas independentes.

O casal, que vive em Paço de Arcos, já está a comparar as condições dos bancos para ter apenas uma conta à ordem, com dois cartões, e uma de poupança. Esta última serve para depositar o que recebem anualmente de IRS e os presentes de aniversário ou de Natal. O casal sabe que tem uma relação com o dinheiro e gestão do orçamento diferente da maioria dos seus amigos. “Se estou no escritório e os meus colegas me desafiam para almoçar, escrevo uma mensagem à Maria. Não estou propriamente a pedir permissão, mas o dinheiro é dos dois”, explica Rodrigo.

Teresa e Hélder

Para Teresa Martins e Hélder Paris, juntos há sete anos, a gestão do orçamento é completamente diferente: “Cá em casa somos quatro e temos quatro contas”, explicam. Antes de casarem, cada um tinha a sua conta – e assim continuou. “Depois tivemos filhos e decidimos abrir contas para eles. É para lá que vão os abonos e os presentes de padrinhos e avós.”

Mercedes, de cinco anos, e Caetano, de três anos e meio, obrigaram a estabelecer algumas regras no que diz respeito a dinheiro, mas a assessora de Comunicação e Imagem admite: “Somos um pouco, para não dizer muito, indisciplinados. Os débitos fixos estão focados numa das nossas contas, sim, mas depois fazemos a gestão das despesas de uma forma muito descontraída. Se vamos ao cinema, às compras, jantar fora, acabamos por ter o instinto de pagar de forma alternada. Uma vez paga um, outra vez paga o outro”, explica Teresa, enquanto Hélder, técnico de fisioterapia, esboça um sorriso. Ele é o membro do casal que mais vezes diz: “É preciso fazer contas!”

Ana e Mário

Em casa de Ana Magueijo, assistente social de 48 anos, e Mário Santos, professor recentemente reformado, com 65 anos, existe ainda outra forma de gerir as finanças pessoais. O casal, que vive no Cadaval, tem uma conta comum, para as despesas da família, e duas independentes. Para a conta comum é transferida parte dos vencimentos, em valor igual para ambas as partes. Esse montante serve para gerir os pagamentos das despesas comuns. A restante parte dos vencimentos é transferida para as contas pessoais de cada um.

“Foi uma decisão de comum acordo, desde que iniciámos a vida como casal, e tem funcionado lindamente”, salienta Ana. Os académicos dizem que esta é mesmo a fórmula mágica.

Gestão do orçamento: Cada casamento, cada sentença

Susana Albuquerque, autora portuguesa na área da gestão financeira pessoal, adverte que o ideal é ter três contas. “Uma para despesas comuns, alimentada pelos dois (quando ambos trabalham), e outras duas contas individuais separadas”, refere a especialista. “Este tema já foi alvo de muitos estudos e reflexões e esta é a solução mais eficaz. Mas se o casal funciona com qualquer outro modelo, ótimo”, explica. Não basta, porém, adotar uma regra. O mais importante é o diálogo, falar sobre o assunto: pelo menos meia hora, uma vez por mês.

O jovem casal Rodrigo e Maria conversa sobre tudo o que sai fora dos gastos fixos e previsíveis. Os dois garantem que nunca tiveram uma discussão sobre dinheiro. Nem nos anos em que namoraram, nem agora, casados. Os almoços com os colegas fazem parte desse diálogo, mas o consultor de comunicação dá outro exemplo: “Neste momento tenho que mudar de lentes e apetece-me mudar de armações também. Obviamente que não decidi sozinho fazê-lo. Já falámos sobre o assunto e vou, efetivamente, fazê-lo.”

Maria e Rodrigo acreditam que o facto de serem católicos e levarem “muito a sério” a religiosidade está na base desta abertura. “Em 2013 o Papa Francisco defendeu que é necessário caminharmos unidos para o futuro. Enquanto se caminha, conversamos, conhecemo-nos e crescemos em família”, salientam. Estas palavras guiam o dia a dia da Maria e Rodrigo. “Se não for assim, um dia podemos ter uma enorme discussão sobre um alfinete que um guardou no sítio errado. Isto acontece com tudo e também com o dinheiro se não houver diálogo”, defende Rodrigo.

Contas de merceeiro…

Mário e Ana, que há duas décadas fazem contas juntos, admitem que já discutiram por causa de dinheiro. Mas é uma discussão como tantas outras. “Gostávamos que o dinheiro esticasse ou tivéssemos menos despesas”. O casal fala várias vezes sobre o assunto e o nível de organização na gestão do orçamento é enorme. O que, naturalmente, evita muita tensão. Quando não há saldo suficiente na conta da família, cada um suporta 50% do valor do que precisam ou querem comprar, seja as férias ou o inesperado arranjo de um carro. Quanto à poupança, cada um responsabiliza-se pelo que quer poupar.

O casal conta que não são raras as vezes que faz “contas à moda dos merceeiros”. “Quando asseguramos, através da conta pessoal, o pagamento de algo cuja utilidade é comum, assentamos essas despesas num papelinho e dividimos ao meio. O que pagou vai receber metade desse valor”, conta Ana, que assume o papel de “ministra das Finanças” lá de casa.

Em casa do casal Teresa e Hélder, o dinheiro é efetivamente gerador de tensão. “Até se respira melhor sem problemas financeiros”, avança Teresa. “Acabar com as discussões e esse stress é impossível, mas numa fase mais complicada que atravessámos uma querida amiga partilhou comigo a sua experiência e disse algo que nos guia hoje em dia: ‘Recuso-me a divorciar enquanto tivermos problemas financeiros’. E assim temos conseguido. Não sabemos o dia de amanhã, ninguém sabe, mas por dinheiro ou falta deste, recuso-me a terminar uma história de amor”, garante.

 

Este artigo foi originalmente publicado na edição Primavera/Verão da revista Montepio. Clique aqui para descarregar a revista.

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