Reformas: o que vai acontecer nos próximos 30 anos?
Sessenta e seis anos e quatro meses. É com esta idade que os portugueses poderão reformar-se em 2023, menos três meses do que no ano anterior. No futuro, porém, a visão de uma aposentação descansada poderá ficar mais turva. Seja por necessidade de trabalhar até mais tarde devido à perda de rendimento, por escolha ou consequência da esperada falta de mão-de-obra, as reformas podem tornar-se uma miragem.
Reformas cada vez mais tardias
Como tem acontecido nos últimos anos (com exceção de 2023 e, provavelmente, 2024, em consequência da Covid-19), as pessoas continuarão a aceder à pensão cada vez mais tarde. Por um lado, é preciso ajustar a idade da reforma ao aumento da esperança média de vida. Por outro, há que precaver a sustentabilidade do sistema de pensões, perante uma balança cada vez mais desequilibrada entre a população ativa e a que está dependente de pensões do Estado.
Os números provam que Portugal será um dos países mais envelhecidos em 2050. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), de 34,5 pessoas idosas por cada 100 em idade ativa, Portugal vai passar para 73,2 em 2050, o que nos tornará no quarto país mais envelhecido da OCDE. Este quadro provocará mudanças que afetam a economia.
“Uma vida mais longa vai significar uma reforma também mais longa e um aumento considerável do consumo, a não ser que as pessoas escolham trabalhar mais tempo”, reconhece António Fonseca, professor da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa e investigador do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH).
Esta tendência, porém, não é exclusiva de Portugal: “A entrada dos jovens no mercado de trabalho é hoje mais tardia devido ao alongamento da escolaridade e às dificuldades de inserção profissional.” Inevitavelmente, as consequências destas alterações demográficas “constituem uma ameaça à solidez de qualquer sistema de pensões”, acrescenta.
Futuro: e se ninguém se reformar?
A diminuição do número de pessoas em idade ativa vai implicar mudanças nas estruturas das empresas.
-
Empresas têm de contratar pessoas mais velhas
Embora muitos empregadores evitem contratar trabalhadores a partir de determinada idade, isso tenderá a mudar face à escassez de mão-de-obra e pessoas especializadas. “Provavelmente, pessoas experientes ficarão mais tempo no mercado de trabalho, com expectativas de uma vida na reforma – de preferência ativa, mesmo que já não no mercado – mais prolongada”, adianta o sociólogo Luís Capucha.
-
Menos pessoas serão reformadas antecipadamente
Mesmo que o tempo de trabalho se prolongue, os empresários terão um dilema em relação a um tema que “tende a ser ocultado”. “É comum, e não é penalizada, a prática de enviar trabalhadores mais experientes para reformas precoces, gerando problemas nos sistemas de pensões e diminuição severa dos rendimentos”, explica o sociólogo. A razão, diz Luís Capucha, é clara. “Estes trabalhadores são substituídos por jovens com contratos precários e menor remuneração”, acrescenta.
Também António Fonseca sublinha as vantagens de manter os trabalhadores mais experientes, argumentando que a sua presença numa equipa “pode trazer contributos significativos ao nível do conhecimento acumulado”. Ainda assim, o psicólogo refere que “mesmo que se contratem trabalhadores mais velhos, tal não significa, necessariamente, que estes tenham assim tanto entusiasmo para continuar a trabalhar numa idade que se habituaram a ver como a ‘idade da reforma’.”
-
Mais mobilidade de pessoas em idade ativa
Outra forma de driblar a ausência de jovens em idade ativa será a mobilidade de pessoas de outros países. “Tenderá a haver uma maior mobilidade profissional no espaço europeu”, reclama João Borges de Assunção, professor associado da Católica-Lisbon.
“A imigração e a promoção do emprego feminino são apenas dois exemplos de como podem suprir-se as necessidades que venham a surgir”, explica Luís Capucha.
O futuro começa hoje
Fixar a idade da reforma cada vez mais tarde não significa que as pessoas adiem o pedido de pensão. Essa será, sobretudo, uma decisão financeira. “Os atuais sistemas de pensões criam expectativas pouco animadoras”, realça António Fonseca. O docente lembra que, quando a reforma deixar de ser encarada como um direito, “compete ao Estado assegurar que a responsabilidade é transferida para os trabalhadores, forçando-os a capitalizarem poupanças para assegurarem alguma tranquilidade financeira no final do ciclo de vida”.
Prepare a sua reforma com a Associação Mutualista Montepio
Existem hoje soluções complementares à Segurança Social pública que ajudam a preparar o futuro. As soluções disponibilizadas pela Associação Mutualista Montepio permitem poupar regularmente, qualquer que seja a sua condição financeira. Entre estas, destacamos:
- Montepio Poupança Reforma, uma solução que lhe permite começar a poupar a partir de 100 euros, permite reforços periódicos e dá-lhe acesso a benefícios fiscais. Além da valorização atrativa, esta modalidade oferece flexibilidade no reembolso;
- Montepio Pensões de Reforma, um complemento da pensão do sistema público com entregas mensais e exclusiva para os associados Montepio entre os 35 e os 59 anos.
Uma coisa é certa: começar cedo a poupar e a planear o futuro pode ser a diferença. “A dificuldade que muitas pessoas apresentam para poupar pode criar no futuro uma fração muito significativa de reformados pobres”, alerta António Fonseca.
No meio da incerteza que um futuro a 30 anos acarreta, existem certezas das quais não podemos fugir: o envelhecimento da população e o baixo número de nascimentos está a mudar a sociedade e a economia. E seja por necessidade ou vontade própria, cada vez mais pessoas vão adiar as reformas. Para os especialistas, isto não é necessariamente mau nem vai retirar empregos aos mais jovens. Faz, apenas, parte da nossa evolução.
Os conteúdos do blogue Ei – Educação e Informação não dispensam a consulta da respetiva informação legal e não configuram qualquer recomendação.
Este artigo foi útil?