Prémio Voluntariado Jovem Montepio: todos juntos para mudar o Conjunto Habitacional do Mineiro

O Conjunto Habitacional do Mineiro, em Gondomar, recebeu a 8.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio. Conheça os principais problemas do bairro e as propostas de jovens voluntários de quatro instituições.
Artigo atualizado a 16-06-2021

No Supermercado Silveirinho, no Conjunto Habitacional do Mineiro, em São Pedro da Cova, eram mais as empregadas do que os clientes. Apesar de nenhuma ser do bairro, que se localiza numa zona carenciada de Gondomar, todas lembram a dificuldade dos idosos em fazerem compras. “Muitos deles estão sozinhos e pedem-nos para entregar as compras em casa”, realça uma delas.

A falta de multibanco nas cercanias é outra das dificuldades da população envelhecida do bairro. Muitas vezes, aliás, são as funcionárias deste supermercado que lhes vão levantar dinheiro, uma situação incómoda para todos e que entrou diretamente nos livros de apontamentos das quatro equipas que participaram na 8.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, iniciativa da Fundação Montepio que pretende estimular a apresentação de projetos de solidariedade que ajudem a resolver desafios sociais de determinado território.

Neste caso, no Conjunto Habitacional do Mineiro, em Gondomar, que recebeu, entre 18 e 19 de janeiro, jovens do Instituto Madre Matilde (Póvoa do Varzim), Casa dos Rapazes de Viana do Castelo, Rumo – Cooperativa de Solidariedade Social (Barreiro) e AFID – Associação Nacional de Famílias para a Integração da Pessoa Deficiente (Lisboa). Nos dois dias, as quatro equipas percorreram todos os metros quadrados do Conjunto Habitacional do Mineiro para conhecer os problemas, preocupações da população e, sobretudo, desenhar soluções para lhes responder. Uma tarefa complexa mas que, como comprovou o Ei no terreno, foi executada de forma metódica e com um sorriso nos lábios.

Segurança, sempre a segurança

Ao lado do Supermercado Silveirinho fica o café com o mesmo nome. A segurança (ou falta dela) é o que mais preocupa os clientes e proprietários. Apontam a necessidade de existir um posto da PSP por perto, porque há muitos roubos e desacatos. No seu caminho para o café, uma moradora lamenta: “Em São Pedro da Cova, Deus Nosso Senhor não passou”. E lembra a falta de oferta de infraestruturas e de atividades dirigidas às crianças e aos mais novos. Quem trabalha com este grupo populacional é Diana Almeida, do Centro de Apoio à Comunidade de São Pedro da Cova. Em conversa com os jovens de uma das equipas, aponta a falta de um parque infantil, mas também de atividades para adultos que lhes permitam alargar conhecimentos. E deixa uma sugestão: por que não ações de formação de parentalidade?

Transportes, espaços públicos…

Sílvia Castelo, da Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso, falou com o Ei durante a visita ao bairro, na qual acompanhou uma das equipas. “Espero, acima de tudo, que percebam o espírito de equipa e a importância de estarmos preocupados com os outros. Os facilitadores do bairro identificaram os pontos que podíamos visitar, começámos por um e vamos passando a outros, de forma a não estarmos todos concentrados nos mesmos”, referiu.

Sofia Nunes, da Fundação Aga Khan, parceira da Fundação Montepio nesta iniciativa, admite que diferentes problemas podem ser resolvidos com um único projeto. “Se estiverem a falar de insegurança, transporte e espaço público, por exemplo, tudo isso pode ser sugerido para um projeto”. A responsável salienta que é um desafio “muito giro, mas complicado” para os jovens que participam. “Há muitas coisas a ter em conta, desde as restrições alimentares até às metodologias de intervenção comunitária”, explicou. No entanto, o projeto será um sucesso. “As diferentes entidades que participaram deram todo o apoio para que tudo corra o melhor possível”, explicou a responsável. Fundação Aga Khan, ADM Estrela, Delegação de Lisboa, Centro Social do Soutelo e Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso são as entidades parceiras da Fundação Montepio na organização da 8ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio.

… mas também um centro de dia

Uns metros mais abaixo, outras das equipas cruza-se com Rosa Padeira, a Vigilante do Bairro. Como pano de fundo, refere a responsável, uma imagem que faz lembrar as favelas no Brasil. A “favela” é uma encosta onde nasceram centenas de casas ao longo dos anos, numa terra que tinha como sustento as minas de carvão, encerradas definitivamente em 1970.

Nos anos 40 chegaram a trabalhar cerca de 2 mil pessoas no complexo, um número que se reduziu ao longo dos anos. Rosa conhece toda a gente e tem na ponta da língua as necessidades da comunidade. Por um lado, era essencial um centro de dia, uma vez que o único local de convívio fechou e não há nenhum outro sítio onde as pessoas possam conviver. D. Júlia, moradora no Conjunto Habitacional do Mineiro, reforça a necessidade de existir um espaço onde as pessoas possam convive e jogar às cartas. E até já pensou num local que o poderia acolher: o antigo canil, perto do rio.

Outra das necessidades do bairro é um campo de futebol onde os “miúdos”, como lhe chama Rosa Padeira, possam praticar desporto. É ela a interlocutora que, muitas vezes e por iniciativa própria, “junta a canalha” e dinamiza o Mineiro. E para as pessoas com necessidades especiais, pergunta uma das integrantes da equipa? Rosa Padeira diz que era muito importante instalarem rampas para as cadeiras de rodas. “São Pedro da Cova é uma terra esquecida”, diz, situação que os jovens voluntários procurarão minimizar com os projetos que vão apresentar, no dia seguinte, ao júri do Prémio Voluntariado Jovem Montepio.

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