Março 21, 2024
Viseu acolhe conferência “A Democracia – Impasses e Desafios”
Fomentar o debate de ideias e estimular o pensamento crítico, através de conferências, estudos e publicações, mas também prestar homenagem a umas das figuras mais relevantes para o desenvolvimento social, científico e cultural do país – Azeredo Perdigão – foram os objetivos do BEIRA – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão que, com o apoio do Montepio Associação Mutualista, realizou, no passado dia 16 de março, a conferência “A Democracia – Impasses e Desafios”, na cidade de Viseu.
Criado em setembro do ano passado, por ocasião do 30.º aniversário de falecimento do visieense Azeredo Perdigão, o projeto inclui quatro conferências internacionais, uma por cada estação do ano, com temáticas muito atuais e pensadores de reconhecido mérito e prestígio internacional.
O primeiro colóquio contou com a participação de Daniel Innerariity, professor da Universidade de Bilbau e do Instituto Europeu de Florença – e hoje um dos mais destacados filósofos europeus no domínio da filosofia política –, que insistiu na necessidade de se repensar o estatuto do futuro, nas suas várias dimensões, numa perspetiva de revitalização da democracia contemporânea que a liberte das excessivas e limitadoras pressões do presente.
O tema do colóquio foi objeto de apresentação de vários ‘Pontos de Vista’, nomeadamente de José Ribeiro e Castro, que focou a urgência de uma reforma do sistema eleitoral que contemple a criação de círculos uninominais; de Sofia Serra e Silva que apresentou o resultado de uma investigação documentada sobre a relação entre eleitores e eleitos, mas também pistas para a desejável aproximação entre uns e outros; de Álvaro Beleza, que defendeu a institucionalização de eleições primárias ao nível dos partidos como forma de alargar o universo dos “decisores” nas opções partidárias, em particular naquelas que são mais importantes para o país, como a escolha dos seus responsáveis máximos; de Joana Amaral Dias, que se debruçou sobre a problemática das quotas à luz de alguns controversos fenómenos do nosso tempo, em particular os relacionados com a transexualidade, que distorcem o seu sentido e objetivo igualitário; e de Manuel Maria Carrilho que considerou irrelevante o debate sobre o voto obrigatório numa época em que o individualismo consagra a liberdade individual como valor supremo, situação que integrou no que designou como “paradigma do ilimitado” do nosso tempo.
A jornada de reflexão sobre os inúmeros desafios que a democracia enfrenta nos dias de hoje contou com a presença de Idália Serrão, Rui Heitor e Fernando Amaro, administradores do Montepio Associação Mutualista, Isabel Silva, administradora do Banco Montepio e João Duarte, Cláudio Coelho e João Almeida Figueiredo, diretores do Banco Montepio.
Esta iniciativa da Câmara Municipal de Viseu, em parceria com a Associação Viriatos. 14 conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do Montepio Associação Mutualista e tem por principal objetivo fomentar o debate de ideias numa perspetiva local, nacional e global, “no âmbito do mundo contemporâneo”. Realizará novos colóquios nos meses de junho, setembro e novembro, sendo o próximo dedicado à controversa problemática da “Inteligência Artificial”, estando a Conferência de Abertura a cargo do conhecido pensador italiano Maurizio Ferraris.
Sobre José Azeredo Perdigão
Nascido em Viseu, a 19 de setembro de 1896, José de Azeredo Perdigão era advogado, licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra. Foi ainda Doutor Honoris Causa em Direito pelas Universidades de Coimbra, do Porto, Nova de Lisboa, da Baía, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nesta área, destacou-se em grandes processos civis, comerciais e criminais.
Pese embora esta vertente, foi, igualmente, uma figura de elevada relevância para as Artes e a Cultura no país. Como advogado pessoal de Calouste Gulbenkian, herdou a confiança deste que, em testamento, lhe depositou a sua vasta coleção de arte. Determinado em honrar tal decisão, Azeredo Perdigão lutou pela causa, concretizando a criação da Fundação do filantropo, à qual se passou a dedicar, inteiramente, desde 1956, tendo assumido a presidência do seu Conselho de Administração ao longo de 37 anos.