Associação Montepio dá nova vida a zona icónica do Porto

Associação Montepio dá nova vida a zona icónica do Porto
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Fotografia de Rodrigo Cabrita e DR
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construção de seis edifícios na Quinta do Pinheiro, na Baixa do Porto, vai criar 117 apartamentos, maioritariamente destinados a arrendamento, uma loja e 192 lugares de estacionamento. É o regresso da Associação Montepio ao investimento vigoroso no setor da habitação. Saiba tudo sobre este e outros projetos que a Associação está a preparar noutros pontos do país: em Lisboa, em Coimbra ou em Vila Real de Santo António, bem perto da fronteira algarvia com Espanha.

Em 2024, a Baixa da cidade do Porto contará com mais 117 apartamentos a estrear, destinados, na sua grande maioria, ao mercado de arrendamento. Os apartamentos ficarão distribuídos por seis edifícios localizados na Quinta do Pinheiro, 550 metros a norte da Avenida dos Aliados, em terrenos onde outrora se ergueu a Escola Académica do Porto.
Serão ainda disponibilizados 192 lugares de estacionamento.

Atendendo a que, na Quinta, já existiam diversos edifícios e árvores, a Associação Montepio procurou assegurar a inserção dos edifícios a reabilitar, e os novos, numa zona verde que tivesse em conta as preocupações com o ambiente e adequada às características climáticas locais. O projeto de paisagismo é do Arquiteto Nuno Vigário, desenvolve-se por cerca de 4 000 m2 e procurou valorizar, ao nível ecológico, funcional e estético, a área em questão, criando um contínuo natural de elevada capacidade e sequestro carbónico. No total, a Quinta do Pinheiro passará a ter mais 131 árvores, segundo explicou à Revista Montepio Fernando Santo, administrador da Montepio Gestão de Activos Imobiliários.

Se a concretização do projeto é de hoje, a vontade deste regresso do Montepio à construção é antiga. O pedido de loteamento deu-se em 1997 e, depois de uma série de avanços e recuos no processo de construção dos apartamentos, a obra finalmente arrancou em maio de 2022. Nos últimos vinte e cinco anos, o Grupo Montepio adquiriu, inclusive, prédios vizinhos, possibilitando a ampliação do projeto. A aquisição do terreno na Quinta do Pinheiro é ainda mais antiga e remonta a 1951.

“A quinta esteve formalmente ocupada de 1975 até 2015, e ficou paralisada no tempo, fechada sobre si mesma. Estava em ruínas”, explica o responsável da Montepio Gestão de Activos Imobiliários.

Situado a cinco minutos da Avenida dos Aliados, paredes-meias com as ruas do Almada, Mártires da Liberdade e do Pinheiro, o novo empreendimento representa um investimento de mais de 35 milhões de euros por parte da Associação Montepio. O projeto de arquitetura foi assinado por Arnaldo Brito.

Adquirida em 1951 pelo Montepio, a Quinta do Pinheiro, no Porto, vai finalmente dar lugar a edifícios modernos, num total de 117 apartamentos para arrendamento

Regresso ao passado mutualista

Entre as décadas de 1930 e 1960, a Associação Montepio foi uma das principais dinamizadoras da construção de imóveis em Portugal. “A par das instituições públicas, a Associação Montepio deve ser a entidade que há mais anos procura promover a construção para arrendamento”, explica Fernando Santo.

Em 1930, Lisboa deparava-se com um grave problema habitacional. Os programas que foram desenvolvidos na altura, quer para rendas acessíveis quer para construção nova a custos controlados, contaram com o apoio mutualista. “Foi a Associação Montepio que promoveu a construção de habitação no pós-Depressão de 1929 e durante a Segunda Guerra Mundial. Foi notável o trabalho que a Associação Montepio fez para promover a habitação e o arrendamento para os seus associados”, recorda Fernando Santo.

Não é de estranhar, por isso, que cerca de 75% dos apartamentos que a Associação Montepio tem atualmente no mercado de arrendamento tenham sido construídos entre 1930 e 1968. Ao todo, são 1 045 os imóveis que a Associação Montepio detém em todo o país, sendo que existem entre 30 a 40 novos arrendamentos por ano.

Uma nova era no arrendamento de casas

Se, nos últimos cinquenta anos, os portugueses privilegiaram a aquisição de casa própria, aproveitando a concessão de créditos à habitação, a tendência de futuro poderá ser outra. “Nos últimos anos pensámos em retomar as políticas daquele período para voltar a produzir habitação para arrendamento. É aqui que está a sustentabilidade de rendimentos das poupanças que são entregues à Associação Montepio pelos seus associados. Essas poupanças têm de ter uma garantia, e os imóveis ainda são dos bens duradouros mais estáveis e perenes sob o ponto de vista temporal. E são os que dão mais rendimento, pelo que continua a ser um bom investimento e confiável”, explica o gestor.

Os edifícios da Quinta do Pinheiro são apenas uma parte de uma estratégia mais ambiciosa e geograficamente abrangente por parte da Associação, que envolve a requalificação de edifícios na Avenida dos Aliados, também no Porto, o investimento em construção nova junto à Praça de Espanha, em Lisboa, e na antiga fábrica Triunfo, nas margens do rio Mondego, em Coimbra, assim como a compra de um edifício com 24 apartamentos em Vila Real de Santo António.

Desenhados pelos irmãos Segurado a pedido da Associação Mutualista Montepio, os “blocos amarelos” de Alvalade revolucionaram a habitação para arrendamento em Lisboa

Requalificar o património da Associação Montepio

Vamos por partes e, por uma questão de coerência, continuar na cidade Invicta. A Associação Montepio possui quatro edifícios na zona da Avenida dos Aliados, sendo que todos têm planos de curto prazo definidos. “O edifício histórico do Montepio Geral, que foi comprado em 1927, vai manter o balcão do Banco Montepio”, garante o gestor. Existem outros três edifícios, situados entre a Avenida dos Aliados e a Rua Magalhães Lemos, que têm uma avaliação de mercado a decorrer para perceber quais as melhores soluções imobiliárias.

“A Avenida dos Aliados é uma zona nobre que necessita de comércio e lojas multimarca, por isso estamos a analisar o mercado para perceber a procura e arrendar esse espaço requalificado”, avança Fernando Santo. Além de uma área de comércio, naquela zona também deverá existir um hotel.

Em Coimbra, a Associação Montepio adquiriu o terreno onde esteve implementada a antiga fábrica Triunfo, junto à margem do rio Mondego. O projeto já tem o parecer do Metro Mondego e da Infraestruturas de Portugal, estando a Associação Montepio disponível para a cedência do direito de superfície da área do terreno necessária para o espaço das infraestruturas do Metro, aguardando a aprovação do Pedido de Informação Prévia por parte da Câmara Municipal de Coimbra para desenvolver os projetos e executar a obra, que contempla a construção de 86 apartamentos destinados ao mercado de arrendamento.

Mais abaixo, na capital portuguesa, os planos para a Praça de Espanha são ambiciosos. “Teremos um edifício com várias funcionalidades. O corpo central será um edifício para habitação, mas na ligação com a Avenida Santos Dumont haverá um topo para escritórios; na curva para a Avenida de Berna será construído um hotel e na ponta dessa rua construiremos um aparthotel. No rés-do-chão do edifício haverá lojas”, explica Fernando Santo.

A estes três projetos sucederão outros no âmbito da política de arrendamento de imóveis da Associação, pensada para responder às necessidades de habitação dos associados. Um regresso ao passado que permitirá à Associação Montepio manter os seus valores-base de solidariedade e igualdade, ao mesmo tempo que enfrenta os próximos anos com projetos assentes na inovação e na modernidade.

Como eram o Porto, e Portugal, em 1951?

Setenta e um anos após ter adquirido o terreno da Quinta do Pinheiro, a Associação Montepio prepara-se para colocar o investimento ao serviço dos associados. Nesse ano distante, com Lucínio Gonçalves Presa a liderar os destinos da cidade, os habitantes da Invicta dividiram-se numa polémica imobiliária que dura até aos nossos dias. É que o célebre Palácio de Cristal, inaugurado em 1865 na zona de Massarelos e inspirado no londrino Crystal Palace, foi demolido em 1951 para dar lugar a um pavilhão moderno, concebido de raiz para receber o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. Desenhado pelo inglês Thomas Dillen Jame, o Palácio de Cristal era um edifício de granito, ferro e vidro, e media 150 metros de comprimento por 72 metros de largura. Os mais saudosistas ainda podem visitar os seus célebres jardins, um dos ex-líbris da cidade Invicta e que se mantiveram intactos com a demolição do edifício principal.

Em 1951, o país ansiava pela inauguração da Barragem de Castelo de Bode, uma das mais importantes do país e que ainda hoje abastece de água quase três milhões de habitantes da Grande Lisboa. Nesse ano, Portugal e os Estados Unidos assinaram o acordo que permitia a utilização, por parte dos norte-americanos, da Base das Lajes, na ilha Terceira, Açores. É também em 1951 que as duas margens do Tejo são ligadas, pela primeira vez, por uma ponte. Nem Alcântara, nem Expo: a ponte foi construída em Vila Franca de Xira.

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