Sábado, 28 de março de 2020. A grande noite de Diogo Piçarra na Altice Arena, em Lisboa, estava há muito marcada. Perto de 20 mil pessoas aguardariam em êxtase as canções de South Side Boy, o álbum mais recente. Mas tal não aconteceu. Quantas vezes atrasámos o relógio por causa da pandemia? No caso de Diogo e deste concerto, apoiado pela Associação Montepio, foram três. Mas a 1 de outubro de 2022 as luzes voltam. “Como uma criança numa loja de brinquedos”, o músico regressa a um público faminto de vida. Conversa com o artista português que, aos 31 anos, está prestes a encher a maior sala de espetáculos do país.
Dois anos de pandemia e, de repente, os concertos voltam. Como estão a ser estes tempos?
É como ser uma criança numa loja de brinquedos que esteve fechada durante dois anos. Sentimos uma enorme saudade e necessidade de trabalhar. Fico feliz por estarmos todos a tocar e com muita gente. Os festivais, as feiras, qualquer recinto e qualquer evento têm estado cheios.
Sentes-te diferente neste regresso?
Preparei-me bem. Fui aprendendo alguma técnica para poder melhorar os concertos, torná-los mais fortes, mais intensos. E sinto que a receção tem sido boa e que muita gente tem reparado nisso. O resto, a vontade de tocar e a interação com as pessoas, está igual.
A 1 de outubro estarás na Altice Arena, num concerto apoiado pela Associação Montepio. O que se pode esperar dessa grande noite, depois de perto de dois anos e meio de adiamentos?
Estar de volta e ter a Altice Arena confirmadíssima é uma sensação de alívio. Será um concerto de consagração e vou cantar músicas do disco [South Side Boy, de 2019]. Também temos uma enorme equipa a trabalhar na componente visual e vamos ter surpresas, não só de convidados, mas também de espetáculo, como pirotecnia. Ou seja, nessa noite vamos “pôr a carne toda no assador”. Vai ser aproveitar ao máximo e mostrar às pessoas como idealizo um espetáculo meu a 100%.
Era uma mágoa imensa ter uma sala gigante como esta cheia, esgotada, e estar a adiá-la por tempo indeterminado. Também sinto uma mágoa pelo trabalho que ficou para trás e que é impossível recuperar. Ia lançar o terceiro disco neste concerto [inicialmente previsto para março de 2020] e, com a pandemia, ficaram singles no ar, mas não houve disco. Já não vai haver. Agora é esquecer o que aconteceu e fazer novos trabalhos.
EXPERIÊNCIAS MONTEPIO
Conheça Diogo Piçarra no meet & greet da Associação Montepio, a 8 de outubro, em Guimarães
Quais serão os próximos passos de Diogo Piçarra?
Logo a seguir à Altice Arena, tenho a minha primeira mini-tour internacional. Vou a Espanha, França, Suíça, Luxemburgo, Inglaterra, e espero que depois haja mais datas pelo mundo afora. E vou apresentar-me a solo, como fiz há bem pouco tempo, num espetáculo em que estava quase como se fosse numa loop station, sozinho, com as máquinas à volta.
A internacionalização é um objetivo importante?
É um desejo difícil de alcançar pela língua e sotaque em que canto, e pelo estilo da música. Eu sonho muito e tenho o objetivo de chegar cada vez mais longe, mas conheço as limitações. Se calhar, se tivesse o sotaque brasileiro ou um estilo mais tradicional, chegaria ainda a mais gente. Mas nada é impossível.
Já que falamos de estilos, em 2019 disseste o seguinte numa entrevista: “Tanto trabalharia música pimba como popular, pop ou reggaeton, porque é música.” O que é que isto diz sobre o teu trabalho?
Para mim, a canção vive despida de estilos. Encontra-se quando se pega na guitarra e se canta, sem produção. As músicas sobrevivem se forem cantadas à guitarra ou acusticamente. O que as faz sobreviver é o que está lá, o resto são “pozinhos”.
Falamos de música, mas também escreveste um livro e tens o apetite pelo cinema. Sentes-te, mais do que músico, um artista que tem algo para dizer?
O fim vai ser sempre dizer algo, seja através da música, de imagem ou de palavras. Vou ser o eterno insatisfeito que quer expressar alguma coisa, seja de que forma for. No âmbito do cinema, como sempre trabalhei nos meus próprios videoclipes, fiquei com o “bichinho” de um dia fazer uma curta [curta-metragem] ou uma série… E penso em ter um projeto à parte do Diogo Piçarra, com outro estilo e outro nome.
Tens o, já longo, apoio da Associação Montepio. Quão importante tem sido esta relação para a tua carreira?
Tenho o apoio da Associação Mutualista Montepio já desde os primeiros concertos grandes. No Coliseu [em Lisboa e no Porto, em 2017], então, foi um enorme apoio… E isso marca. Na Altice Arena, está lá novamente o apoio da Associação. É porque tem corrido bem e porque é uma amizade boa, que espero continue durante muitos mais anos.
Quão importante é ter este tipo de apoios tendo em conta o cenário da cultura em Portugal?
Sinto que estamos sempre em piloto automático, à deriva. Temos as nossas agências e editoras, mas fora isso temos de construir o nosso caminho sozinhos. A Associação veio mostrar que apoiar a cultura é importante porque ela faz parte da vida das pessoas.