Quando regressou a Braga vindo da Venezuela, aos 10 anos, Humberto Gomes só falava castelhano. “O facto de ter começado a praticar andebol foi uma ajuda muito grande para me ambientar ao país”, confessa. No pavilhão, Humberto foi perdendo a timidez, fez amigos e integrou-se numa sociedade que lhe era estranha. Com jeito para o desporto, tornou-se andebolista profissional e vestiu a camisola da seleção portuguesa. Aos 45 anos continua a jogar, mas quando se “reformar” vai retribuir ao jogo o que o jogo lhe deu. “Vou continuar ligado ao andebol”, garante.
A história do guarda-redes do ABC de Braga terá pontos em comum com o trajeto de alguns dos 483 829 praticantes desportivos federados em Portugal (2021). Para que todos eles treinem e compitam, há milhares de dirigentes, treinadores e pais não remunerados que fazem com que isso aconteça. Mas o desporto é uma gota de água no oceano deste altruísmo. Em todos os setores de atividade há quem coloque o “nós” antes do “eu”, e participe, quase sempre por “carolice”, na construção desta aldeia global.
A investigadora Lara Guedes de Pinho, por exemplo, dedica-se a ajudar as pessoas com depressão. “Se ganhasse o Euromilhões reabilitava um dos antigos hospitais de saúde mental, que estão ao abandono, e colocava-o ao serviço da população”, explica. E o cantor Fernando Daniel, protagonista da mais recente campanha de comunicação do Montepio Associação Mutualista, vai abrir uma escola de música para jovens desfavorecidos.
No tema de fundo da 6ª edição da Revista Montepio vamos perceber o que move Humberto, Lara e Fernando, entre outros cidadãos que procuram o bem-comum. Vale a pena ler cada uma das sete histórias que lhe trazemos, mas podemos atalhar as conclusões: o desporto, a investigação e a cultura, mas também o voluntariado ou o associativismo, são meios para um fim: contribuir para algo maior que nós.
A vida move-se e ajusta-se às necessidades de cada comunidade e grupo de pessoas, de cada época e de cada desafio. Hoje, somos os facilitadores da inclusão; amanhã, os recetores do contributo dos outros. É a lógica mutualista aplicada à sociedade civil. Por isso, este é um tema que acarinhamos de modo especial. Além do altruísmo, intrínseco à existência humana, também precisamos uns dos outros para criar um sentimento de pertença. Somos membros de uma comunidade e não podemos viver sem a dedicação, o tempo, o talento ou a amizade de todos os que dela fazem parte.
Enquanto instituição fundamental na vida portuguesa dos últimos 180 anos, somos pioneiros na integração. Os nossos 600 mil associados fazem parte de um projeto de proteção financeira, de saúde, de habitação, de voluntariado, de cultura… E são essenciais nesta vontade de chegar sempre além: a mais instituições, a mais famílias, a mais pessoas.