Como combater as fake news na informação financeira

Como combater as fake news na informação financeira
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Ilustração de Pedro Dias
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acesso a informação fidedigna e de qualidade é uma arma cada vez mais relevante para que o cidadão aplique as suas poupanças da melhor forma, escapando às fraudes. Saiba como evitar as fake news e decidir o que fazer com as suas poupanças.

A crescente digitalização dos serviços financeiros e a proliferação de conteúdos financeiros na Internet favoreceu a tarefa dos aforradores. Nunca foi tão fácil aplicar as poupanças e encontrar informação adequada para adotar as melhores decisões. Contudo, este aumento acentuado da oferta também se traduz numa ameaça para os investidores, que estão cada vez mais expostos a tentativas de fraude e veiculação de informação enganadora. De modo a selecionar as melhores opções para aplicar as poupanças, é essencial estar munido de informação fidedigna e de qualidade. Só assim terá maiores probabilidades de escolher as soluções adequadas ao seu perfil e que atinjam os retornos alinhados com as suas expectativas.

Ainda há pouco tempo, os bancos tradicionais tinham o exclusivo na captação de poupança dos portugueses, que procuravam nos balcões das instituições as melhores soluções para os seus objetivos. Atualmente, bastam escassos minutos para converter o dinheiro poupado em investimentos financeiros, quer sejam as convencionais modalidades mutualistas de poupança, ações de uma empresa cotada nos Estados Unidos, obrigações de um país asiático, um fundo de investimento emitido em qualquer parte do mundo ou uma alternativa mais exótica.

Os media tradicionais também tinham o exclusivo da veiculação de informação financeira para o investidor. Hoje, as redes sociais estão repletas de conteúdos financeiros, o que alarga o leque da oferta mas também o volume de informação falsa, de má qualidade e imprecisa. Muitos profissionais recorrem às redes sociais para veicular informação que pode ser preciosa para os investidores, mas as redes sociais também são um terreno fértil para as notícias falsas (fake news) e fraudes.

A pandemia veio acelerar esta tendência de recurso aos serviços financeiros digitais para investir e o surgimento de esquemas online para burlar os investidores. É por isso que o acesso à informação de qualidade é um ativo cada vez mais valioso, para que os investidores estejam cientes dos riscos que estão a incorrer e não cometam erros que coloquem em causa as poupanças de uma vida.

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A ameaça das burlas

Se investir nunca foi tão fácil, a probabilidade de ser tentado a selecionar uma opção que represente uma burla também é cada vez mais elevada. A melhor arma contra esta ameaça é a informação. Conhecer os perigos é a melhor forma de os manter longe e saber onde está a informação que interessa é um passo decisivo no sucesso da estratégia de qualquer cidadão e investidor, tenha ele mais ou menos experiência e conhecimentos sobre os mercados financeiros.

“Estas burlas e fraudes, que não param de aumentar, são uma forte ameaça para os aforradores portugueses”, alerta Pedro Andersson, autor do blogue Contas-Poupança. “Os portugueses já são hiperconservadores por natureza. Se tiverem medo de investir por razões externas, vai ser ainda pior”, acrescenta o especialista em finanças pessoais, destacando a importância da “literacia financeira e digital para que os cidadãos percebam por eles próprios o que é burla e o que é legítimo”.

Pedro Andersson foi alvo recente de uma das tentativas de burla com maior destaque nas redes sociais dos últimos tempos. Milhares de posts com a imagem do também jornalista da SIC serviram de isco para uma fraude que recorria a figuras públicas e à imitação do grafismo do jornal ECO para veicular notícias falsas com o intuito de atrair o leitor para uma plataforma de criptomoedas fraudulenta.

O link da notícia era “estranho” e o texto em português do Brasil “também levantava algumas suspeitas”, refere Pedro Andersson. “Está a ficar cada vez mais difícil identificar estas burlas, o que é preocupante para qualquer órgão de comunicação social e os cidadãos”, diz o jornalista, que se sentiu “de mãos atadas” e “horrorizado” com o uso da sua imagem.

“Recebo dezenas de mensagens, a maioria a alertar para a burla, outras de pessoas desconfiadas a querer saber se é mesmo verdade e, felizmente, poucas a dizer: ‘Já transferi o dinheiro, e agora?’ Foram quatro ou cinco casos, mas se fosse apenas um já seria preocupante”, desabafa.

As redes sociais são uma “ameaça quando se trata de conteúdos falsos ou manipulados e que constituem um isco para atrair potenciais incautos”, salienta Celso Filipe. O diretor-adjunto do Jornal de Negócios destaca que as redes sociais são uma “concorrência desleal” aos media e “podem contaminar a perceção que os investidores têm da comunicação social”.

“Os media têm de fazer o seu trabalho. No caso do Jornal de Negócios a preocupação é fornecer informação de qualidade que ajude os investidores na tomada de posições, e é por aqui que se conquista a confiança e adquire credibilidade”, acrescenta Celso Filipe, considerando que cabe às “autoridades de regulação competentes” o combate às fake news.

Os episódios de fraudes são cada vez mais frequentes e com impacto significativo, atingindo também os investidores institucionais. No ano passado, uma imagem gerada através de inteligência artificial que mostrava uma explosão no Pentágono provocou uma desvalorização brusca no valor das ações norte-americanas. Perderam-se muitos milhões de dólares nos minutos em que o mercado demorou a perceber que a imagem era falsa, sendo que uma fatia considerável foi assumida por investidores profissionais. Uma prova de que ninguém está imune e a informação correta vale ouro.

“A minha luta é para que a literacia financeira seja uma disciplina universal e obrigatória em todas as escolas do país”

Pedro Andersson, jornalista

Que cuidados deve ter?

Tendo em conta esta proliferação de conteúdos falsos, esquemas ilícitos e tentativas de fraude nas redes sociais, a tarefa dos reguladores é tudo menos fácil, sendo que o esforço está sobretudo concentrado na prevenção. A melhor forma de o fazer passa pela informação aos investidores e alertas sobre as entidades que não estão autorizadas a fazer intermediação financeira.

Os reguladores em Portugal (CMVM, Banco de Portugal e ASF) admitem que a “crescente sofisticação dos meios utilizados no contacto e persuasão dos investidores, e a diversidade de locais a partir dos quais os autores destes crimes atuam, tem vindo a dificultar a tarefa das autoridades, inviabilizando em muitos casos a sua punição e a indemnização dos investidores defraudados”. Lamentam ainda a “existência de ‘nações não-cooperantes’, paraísos fiscais ou praças off-shore” no combate às redes de fraude, o que “coloca muitas vezes fora do alcance dos supervisores do sector financeiro e das autoridades judiciais as mais-valias obtidas com as atividades fraudulentas”.

No portal Todos Contam, no qual estão agrupadas as informações dos reguladores nacionais, constam vários conselhos relevantes que devem ser tidos em conta para que o investidor se previna das situações de fraude. Um dos cuidados a ter passa por garantir que o intermediário tem autorização para prestar o serviço em Portugal, sendo ainda importante proteger os dados pessoais e contornar as tentativas de fraude informática (como phishing, pharming e spyware).

A utilização de figuras públicas para promover produtos financeiros tem sido uma prática cada vez mais recorrente, numa tentativa de dar credibilidade a opções de investimento duvidosas. Desportistas, estrelas do mundo da música e celebridades têm dado a cara por vários destes produtos financeiros, muitos deles com promessas de ganhos fáceis, rápidos e elevados.

Outras personagens menos conhecidas do público em geral, mas com milhares de seguidores nas redes sociais devido a conteúdos de entretenimento, também viram nos mercados financeiros um palco fácil para ganhar dinheiro à custa de recomendações de soluções de investimento de elevado risco, com destaque para as criptomoedas e outros produtos complexos.

Urgência na tomada de decisão, promessa de ganhos avultados e de investimento confidencial, ligação do investimento a mercados exóticos e solicitação de pequeno depósito inicial são alguns dos comportamentos que indiciam fraude, alertam os reguladores.

Pedro Andersson também deixa alguns alertas. “A primeira regra é desconfiar sempre”, pois “se um investimento parece ser demasiado bom para ser verdade, é porque provavelmente é fraude”. Acrescenta que “rendimentos elevados e rápidos, garantidos, é coisa que não existe”, aconselhando o investidor a “ler sempre as fichas de informação de cada produto e os contratos antes de assinar” e a “também desconfiar sempre de chamadas do estrangeiro”.

Se mesmo os investidores que trabalham há anos nos mercados são enganados por informação falsa, os pequenos aforradores devem ter noção de que estão ainda mais vulneráveis. Adotar uma postura defensiva, decisões ponderadas, ter do seu lado informação credível e instituições financeiras reconhecidas é meio caminho andado para escapar ao perigo dos investimentos ruinosos.

“Os leitores estão mais sofisticados e atentos a novas oportunidades de investimento em setores como o dos criptoativos”, refere Celso Filipe. “A minha luta é para que a literacia financeira seja uma disciplina universal e obrigatória em todas as escolas do país. Só mudando uma geração desde o início é que começaremos a ver mudanças globais no país. Entretanto, terá de ser cada um de nós a informar-se e a proteger-se o melhor que conseguir”, recomenda Pedro Andersson.

“Os media têm de fazer o seu trabalho. A preocupação do Jornal de Negócios é fornecer informação de qualidade. É por aqui que se conquista a confiança e adquire credibilidade”

Celso Filipe, jornalista

10 dicas para escapar a fraudes financeiras

Na vida, como nos negócios, ninguém está imune a ser enganado. Mas há modos de atuação por parte de quem comete a fraude que fazem soar campainhas de alerta nos consumidores. Fique atento a estas 10 dicas e escape ileso a eventuais fraudes financeiras.

  1. Garanta que o intermediário financeiro está registado no Banco de Portugal, CMVM ou no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social – Direção-Geral da Segurança Social (no caso do Montepio Associação Mutualista).
  2. Desconfie sempre das promessas de rendimentos rápidos e elevados.
  3. Leia atentamente as fichas de informação dos produtos financeiros que subscreve.
  4. Se não entende como funciona um produto financeiro ou ativo, não invista.
  5. Recorra a fontes credíveis de informação financeira.
  6. Valide se a informação obtida nas redes sociais e outras fontes não convencionais é correta.
  7. Ignore as recomendações de investimento que não são veiculadas por especialistas.
  8. Nunca aja por impulso ao tomar decisões de investimento.
  9. Preste especial atenção e cuidado com as solicitações através de emails e mensagens que obrigam a clicar em links.
  10.  Nunca faça um depósito inicial para possibilitar o investimento inicial.

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