Buba Espinho nasceu a 24 de abril de 1995, tendo, por isso, à data desta entrevista, 29 anos. “Há o mito que tenho 24 anos, porque há um artigo online que o afirma. Todos os jornalistas me perguntam o mesmo”, diz a brincar. Ressalvas feitas, é altura de conhecer o jovem que nasceu com a música na alma e o cante alentejano no coração. Filho de Luís Espinho, compositor do sucesso invulgar As Meninas da Ribeira do Sado, de 2002, Buba, de nome verdadeiro Bernardo, tem uma missão: levar as modas tradicionais alentejanas aos quatro cantos do planeta.
Vens de uma família de músicos. Podes contar-nos um pouco da tua infância, quando começaste a cantar e a tocar guitarra?
Foi tudo muito natural, quase sem o saber. O meu pai punha música em casa, passávamos os dias a ouvi-la. Fui educado com os valores da música, o que move um músico a fazer canções: a partilha, a união, a alegria, a felicidade. Foram estes os primeiros valores que me foram incutidos na infância pelo meu pai e pelo meu irmão, que também são músicos. O meu pai conhecia muitas pessoas da indústria e isso deu-me um certo balanço e avanço, já estava preparado para o que aí vinha. Foi então que as coisas começaram a acontecer.
Sendo filho de músico, sentiste pressão para seguires os seus passos?
Não, não. Foi sempre uma coisa muito natural, o meu pai nunca me pressionou para fazer música. Durante algum tempo até quis ser desportista, jogava andebol e ele apoiava-me a 100%. Quando escolhi a música, continuou a apoiar-me a 100% mas, obviamente, mais contente por estar ligado a uma área que tanto o deixava feliz. Infelizmente, ele nunca conseguiu fazer esta atividade de forma profissional, também por causa dos filhos. Sinto-me na responsabilidade de continuar o legado que ele começou.
Em criança, o que ouvias em casa?
Desde música tradicional do Alentejo até Quincy Jones, Ray Charles, Tina Turner, Eric Clapton, Stevie Wonder. Na minha casa sempre se ouviu de tudo, nunca houve uma barreira. O meu pai diz que música é música, desde que seja feita com amor. Foi a isso que me habituei desde miúdo: abrir os ouvidos a qualquer artista que apareça, porque certamente vou aprender. Mesmo sendo o oposto do que eu faço, estou sempre aberto a ouvir outros géneros musicais e novas perspetivas.
Das personalidades do mundo da música que conheceste em criança, qual a que mais te marcou?
Houve várias. Há uma história engraçada com um cantor aqui do Porto, para mim o maior, o Rui Veloso [ndr: a entrevista foi realizada na Casa da Música, no Porto]. O Rui era muito amigo do meu pai e eu tinha por ele uma paixão, mas ainda não o conhecia pessoalmente. Nos 50 anos do meu pai, o Rui Veloso foi convidado para ir a Beja e, às tantas, sentei-me ao lado dele com outro amigo e conversámos. Estávamos a viver um sonho. De repente, chegou outro amigo do Rui Veloso e ele disse-me: “Ó puto, sai lá daqui” [risos]. Nessa altura, disse ao meu pai que nunca mais queria ver o Rui Veloso na vida. Fiquei 10 anos sem querer saber dele, ao ponto de nem conhecer as músicas. Um dia, o meu pai disse-lhe: “Liga lá para o miúdo que ele está chateado contigo.” O Rui ligou-me: “Então miúdo, estás chateado comigo porquê? Anda cá a casa fazer música.”
É, para ti, uma referência?
Sim, sim. A partir daí mantivemos uma amizade muito especial e hoje encontramo-nos muitas vezes e falamos sempre desse episódio. Marcou-me muito a forma como um grande artista, como ele, trabalha. Assim como o António Zambujo, artista alentejano da minha cidade que desbravou muito mato para a indústria musical portuguesa e mostrou que o Alentejo tinha qualidade. Foi dos primeiros a quebrar o preconceito de o cante alentejano ser música de bêbedos e das tabernas. O António Zambujo foi o primeiro a colocar o Alentejo no mundo da forma que merece.
As tuas músicas têm muitas referências alentejanas. Falam da vivência, das tuas memórias. O teu último álbum chama-se Voltar, talvez seja voltar ao Alentejo. Como lidas com a ausência do Alentejo quando estás em digressão ou em Lisboa, por exemplo.
Gosto de ver o copo meio cheio. Quando estou fora, é como um mergulho. Tenho de suster a respiração e estar muito tempo sem vir ao de cima. Só quero respirar o ar que se respira no Alentejo. Mas depois valorizo o regresso. Há esse recarregar de energia, tenho a minha família toda lá, a minha filha. Depois desta azáfama toda, de andar de um lado para o outro em concertos, lançamento de álbuns e promoções, voltar ao Alentejo e parar, estar só com a família, é realmente o melhor. É uma saudade eterna desde o segundo em que deixo de ver o castelo de Beja. É uma saudade imediata, não consigo explicar. É onde está a minha família e onde os meus antepassados viveram. Tenho uma ligação muito especial ao Alentejo.
A ausência inspira-te.
Muito, muito. Não tanto na altura em que lá estou, mas quando estou longe. Inspira-me muito e dá-me vontade de cantar as minhas modas e as letras escritas pelos nossos antepassados. Através da música consigo sempre voltar.
Há uma música dos GNR que fala da pronúncia do Norte. Tens uma pronúncia do Sul, alentejana, que está muito em voga na música portuguesa. Foi o António Zambujo que foi abrindo as portas ou a própria evolução da música, e da música portuguesa, abriu espaço para o cantar alentejano?
Foi um dos que o fez, sim. Diria que foi o principal, porque continua a fazer da música a sua vida. Mas o projeto Adiafa também foi especial e quebrou um pouco essa barreira, apesar de manter uma imagem mais “parola”, do alentejano passado. O António Zambujo mostrou que um cantor alentejano é igual a um do Porto ou de Lisboa. Nesse aspeto, mudou a realidade. Depois há toda uma geração que foi influenciada por ele e seguiu-o, como os Virgem Suta, que mostraram ser possível haver outros géneros musicais no Alentejo. São vários embaixadores, mas o António Zambujo é o expoente máximo.
E já apadrinhaste outros músicos que são mais novos que tu. Que artistas alentejanos vão fazer sucesso, nos próximos anos, em Portugal?
Todos os que quiserem. No Alentejo, nascemos com um dom especial pelo facto de estarmos em contacto com a música desde muito cedo. É algo natural nas famílias. Costumo dizer que partimos em vantagem sobre outros artistas, porque somos colocados em cima da mesa a cantar para a família desde muito cedo. Cantar é algo normal, não estamos enfiados num quarto a tocar para uma câmara como a maioria dos miúdos. Temos essa experiência de podermos estar em contacto com o público e com a música desde crianças, e isso é muito bom. Qualquer artista alentejano que se foque e que trabalhe consegue fazer da sua vida música. Mas diria que o Jorge Cruz, que é um miúdo que está a aparecer, será um dos próximos compositores alentejanos com muito trabalho e muito sucesso.
E faz parte do teu papel puxá-los para cima?
Claro que sim. Tal como o António Zambujo fez comigo, sinto que tenho de dar a mão aos outros artistas. Em primeiro lugar, porque me revejo neles, já estive naquele lugar e tive aquela ganância de querer fazer tudo e mais alguma coisa num só dia, cantar as músicas todas e fazer os espetáculos todos num só dia. Se isso quiser dizer que sou um embaixador da música portuguesa, e da música alentejana, sinto-me bem.
Alentejano, mas sem barreiras
Se pudesses fazer um dueto com qualquer artista mundial, com quem seria e porquê?
Rosalía. Acho que é a artista que melhor funde as tradições, e as suas raízes, com o urbanismo, a modernidade e a contemporaneidade.
Tens tocado muito com os D.A.M.A. Como surgiu esta parceria e até onde pode chegar?
Não há limite com eles. É por isso que fazemos tantas coisas juntos. Para qualquer ideia que partilhamos há sempre uma abertura muito grande, um acreditar e um sonhar em conjunto. São três rapazes muito inteligentes, trabalhadores e focados, com muito amor por aquilo que fazem. E é muito raro encontrar pessoas dessas na indústria. A primeira vez que trabalhei com eles quis-me agarrar a isso e nunca mais os larguei, nem eles a mim. Antes de haver uma relação profissional há amizade, amor e partilha. É uma relação muito especial e vamos preservá-la, certamente, para o resto das nossas vidas. É o que diz a nossa canção, Casa.
Vês a tua música evoluir para outro registo? Outros instrumentos, outros arranjos?
Não gosto de idealizar o que vou fazer daqui a três ou quatro anos. Sei qual é o caminho a seguir, mas não há barreiras a instrumentos, duetos, locais, estúdios ou produtores. É o que vou sentindo, porque confio muito no instinto. É isso que me dá prazer e sentir que agora a guitarra portuguesa faz sentido, ou um piano. Ou não. Mas não gosto de fechar a minha música para fazer só cante alentejano ou fado. Ou só cantar em português. Estou sempre aberto a todas as experiências que possam acrescentar à minha música e ao meu caminho.
Até porque não se sabe para onde a música vai evoluir.
É verdade, não é uma ciência exata. Vou dar-me às experiências, às pessoas e aos músicos. Há muito por onde correr, um mundo lá fora. Muita partilha para fazer, e levar a minha música aos quatro cantos do mundo, trazer outras músicas para o nosso país, é isso que quero fazer da minha vida. Se tem ou não sucesso, ou com que instrumentos, hei de definir ao longo do caminho.
Tens tocado lá fora?
Sim. Fizemos uma digressão pela América do Sul em 2022, e este ano já fomos à Suíça. Estamos num processo de afirmação internacional, o que leva muito mais tempo, mas dá-me muito prazer receber o feedback das pessoas sobre o que é a minha música, identificam-se muito com ela. Ser um dos embaixadores da música portuguesa deixa-me muito motivado e focado.
Já és reconhecido na rua? O que te dizem os teus fãs?
Sim, já. Os meus fãs são sempre pessoas muito tranquilas, não tenho aquela coisa de ser uma pop star ou um sex symbol nacional. Sou um artista que fala de amor, de música e de arte, e há muitas pessoas que se identificam com isso. Normalmente, este tipo de público é muito atencioso e carinhoso. Muitas abraçam-me e outras choram só de me ver. Isso deixa-me muito contente, porque sinto que toco nos corações das pessoas e elas vêm falar comigo, mas não por aparecer na televisão ou ser famoso.
Buba Espinho pelos outros
É raro fazeres a música ou a letra das tuas canções. Porquê?
Em primeiro lugar, porque confio muito mais nos outros do que em mim [risos]. Estou a brincar, mas gosto muito de cantar as palavras das outras pessoas e aprendi isso com outro grande compositor e músico do Porto, o Diogo Brito e Faro. Foi o primeiro poeta e compositor com quem trabalhei e expus a minha história de vida. Passadas algumas semanas do nosso encontro, ele escreveu sobre isso e eu gostei dessa perspetiva, a das outras pessoas.
O que ganhas em ter outra pessoa a olhar por ti?
Quando pedimos uma canção a outro compositor ele vai escrever sobre nós, a forma como olhamos, como nos vestimos. E eu canto a personagem que fala sobre mim. Mas também gosto de vestir outras personagens, abraçar histórias que nunca aconteceram e cantá-las. É um desafio muito grande, apesar de também gostar de escrever. Mas assim penso noutras coisas, como a interpretação, a forma como me apresento, e não tanto a composição. Não gosto de cuspir aquilo que vai cá dentro tocando e cantando. Gosto, sim, de falar com as pessoas e dar-lhes a minha perspetiva para depois escreverem canções sobre isso.
É outra coisa que te liga ao António Zambujo.
Ele escreve algumas coisas mas prefere sempre outras músicas.
Tens uma vida inteira para escrever músicas.
Sim, e é algo que eu gostava muito de fazer. É preciso muita prática e muito trabalho, tempo e liberdade de pensamento. Por enquanto estou muito focado nos espetáculos, nas promoções. Este ano vamos fazer 70 concertos e a minha energia vai muito para aí. Até porque também estou muito focado na gestão de tudo o que anda à volta do projeto, por isso nem sempre tenho energia suficiente para compor. Sinto que é preciso ter muita energia para olhar para dentro e jogar para fora.
Alguma vez sentiste a tentação de perguntar ao Rui Veloso como é que ele compõe?
Não gosto muito de fazer essas perguntas aos meus colegas. Prefiro olhar para eles e ver a forma como se mexem, como trabalham. É isso que me estimula e permite fazer a minha própria análise.
Mas compuseste uma música para o álbum Voltar, chamada Hoje é o Dia. Podes recordar esse processo criativo?
Foi muito interessante. Essa música nasceu porque a Raquel Tavares estava a fazer um álbum e pediu-me uma canção. Ambos admirávamos o poeta portuense Paulo Abreu de Lima, que infelizmente já não está entre nós. O Paulo fez poemas incríveis para o Rui Veloso ou para a Mariza, entre outros artistas nacionais, e foi das primeiras pessoas a motivar-me e a dizer-me que tinha futuro na música, bastava acreditar. Aliás, falo sempre do Paulo em todos os espetáculos.
A letra é do Paulo. Mas a melodia é tua.
Sim, sim. Pedi-lhe uma letra e foi essa que veio. Apresentei o tema à Raquel, mas foi na altura em que ela deixou de cantar e eu fiquei com a canção. Falei com o Paulo e disse-lhe que ia editar a canção. Mas só a compus porque foi para outra pessoa. Acabou por ser um processo giro e muito rápido. Fiz a música em 30 minutos. Já tinha a letra e saiu naturalmente. O Paulo tinha uma forma muito métrica de escrever, muito musical, e era fácil poder trabalhar melodicamente a canção. Num dia tinha a canção feita e gravada numa maquete, na Adega Machado, uma casa de fados em Lisboa. Tínhamos pausas de hora e meia e foi aí que gravei.
O teu irmão é guitarrista do Rui Veloso. Dá-te dicas?
Sim. Ele produziu, comigo, todo o álbum Voltar. Sempre foi uma pessoa muito presente, sobretudo na minha infância. Ouvia a música que ele me apresentava, desde tunas universitárias a Moonspell, Metallica ou Lamb of God. Ouvi-as muitas vezes. Mas cada vez menos falamos de música e mais da vida. A música já está tão presente nas nossas vidas que, por vezes, sabe bem libertarmo-nos. Em tempos, foi uma pessoa muito presente no processo criativo.
Já estás a pensar no próximo álbum?
Nos próximos dois, aliás [risos]. Este ano vamos celebrar o aniversário do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade, porque já passaram 10 anos sobre esse dia magnífico [27 de novembro de 2014], que quero sempre recordar. Há 10 anos, fiz um álbum com o meu pai sobre o tema [no projeto Mestre Cante], e este ano gostava de fazer o mesmo mas à minha maneira, a solo. Quero trazer várias perspetivas de artistas nacionais e internacionais a olhar para o cante alentejano fundindo-o com a tradição das modas tradicionais. O objetivo é criar modas originais.
Que convidados vais ter?
Muitos, de todas as áreas. Compositores, produtores, poetas. Quero trazer o máximo de experiências para este álbum porque o Alentejo precisa disso, de outros olhares e de inspirar-se noutras pessoas.
E no próximo ano?
Terei mais um álbum de originais, vou lançá-los de dois em dois anos.
E vais ter tempo para tudo?
Há sempre tempo para tudo com vontade e com foco.
No dia 8 de junho, com o apoio do Montepio Associação Mutualista, cantaste na Sala Suggia, na Casa da Música. O público do Porto é tão especial como dizem?
É o mais especial. Seja na Casa da Música, no Coliseu, no Teatro da Batalha, no Sá da Bandeira… é sempre maravilhoso vir cá tocar porque as pessoas são muito sensíveis, especiais na forma como consomem música, principalmente a portuguesa. Olham sempre com muito respeito, com muito valor, valor esse que não existe no resto do país. As pessoas do Porto gostam mesmo de ouvir outros estilos tradicionais, seja do Alentejo ou do Minho. Sinto que o público do Porto é muito aberto. E depois esta sala é mítica, das mais bonitas e especiais do país. A nível de acústica é maravilhosa.
Os músicos entram diretamente para o palco.
[Exemplifica com as mãos] Jogam-nos, assim, para o meio: “Vai, arranca!” E eu fiquei assim: “Onde é que está o pano preto?” Foi uma sensação estranha, mas assim que recebemos o primeiro impacto do público tudo mudou e o mais importante é a ligação com o público que, na minha ótica, é sempre muito boa. Já tínhamos tido uma experiência muito boa na [Avenida dos] Aliados, no dia 9 de dezembro. Fizemos um concerto ao ar livre e choveu do início ao final do espetáculo e as pessoas não saíram de lá. Por isso, tenho quase um sentido de dívida para com o público do Porto, que é sempre maravilhoso.
REVISTA MONTEPIO
Ivandro: “A minha vida tem sido peculiar, quase feita para me motivar ”
Buba e o dinheiro
Como é um dia na tua vida?
Se for dia de concerto, tento dormir bem. Tenho de estar concentrado e não falar muito ao telefone para a voz estar tranquila. Tento estar só focado no concerto. Fora dessa rotina, gosto de fazer desporto, jantar fora e viajar. Sou um rapaz normal e, como todos os rapazes de 29 anos que nasceram no interior, estou muito ligado à terra e à minha gente. Dou-lhes muito valor e estou em contacto com os meus amigos e a minha família.
Desde que idade ganhas dinheiro com a música?
Desde os 16 anos. Ganhei 10 euros na minha primeira atuação. Éramos um grupo de 14 pessoas e o cachet foi 140 euros e uma box de vinho [risos]. Foi em 2011.
Quanto ganhas com o Spotify por ano. Tens noção?
É uma miséria, nem me arrisco a contar. Para teres uma ideia: o meu pai escreveu a música [começa a cantar a música As Meninas da Ribeira do Sado, lançada pela banda Adiafa, em 2002] “Estrala a bomba / e o foguete vai no ar”, que teve muito sucesso na altura. E eu também tive um hit com tanto sucesso, ou mais, que esse, e não há termo de comparação. É impossível viver com o dinheiro do Spotify, a menos que lancemos músicas todos os dias e que sejam todas um sucesso. E mesmo assim será difícil.
Como vês a tua vida financeira a 10 ou 15 anos? Tentas poupar para essa altura?
É um balanço entre investir e poupar. Aproveito os momentos mais altos para investir, não só na minha carreira mas também noutros projetos que me dão gozo fora da música. Invisto em música, mas também em património e coisas que sei que, daqui a muitos anos, podem dar-me essa estabilidade, e também aos meus filhos. Permite dar-lhes futuro. A vida não tem grandes coisas para investir, a não ser em mim mesmo – a minha música e os meus projetos – e naquilo que quero para a minha estabilidade e para a minha família.
O facto de teres sido pai há pouco tempo mudou o modo como olhas para o dinheiro?
Mudou, sim. Só quem é pai é que sente o fogo no rabo, como costumo dizer. Temos de correr. Se me faltar alguma coisa, está tudo bem. Mas não consigo lidar com não ter trabalho nem dinheiro para alimentar a minha filha. Não consigo viver com isso na minha cabeça, por isso trabalho todos os dias cada vez mais. Assim que tive a minha filha nos braços, foi a primeira coisa em que pensei. É uma nova realidade e este ser depende de mim, por isso vou ter que dar tudo e mais alguma coisa. A responsabilidade já era muita e tornou-se ainda maior.
10 perguntas-relâmpago a Buba Espinho
1. O que fazes quando passa uma música tua na rádio?
Fico contente. E canto por cima, porque gosto das minhas músicas.
2. Que música ouvias em criança?
Bohemian Rhapsody, dos Queen. Aliás, ouvia quase todas as músicas dos Queen.
3. Qual é a pergunta que mais te fazem nas entrevistas?
“Tens mesmo 24 anos?” Há um mito que diz que eu tenho 24 anos, porque há um artigo que diz: “Buba Espinho, cantor natural de Beja com 24 anos.” Todos os jornalistas me perguntam se é verdade.
4. Quais os primeiros álbuns que compraste?
Desfado, de Ana Moura, e Crónicas da Cidade Grande, de Miguel Araújo.
5. Lembras-te do primeiro autógrafo que deste?
Deve ter sido à minha tia Zezinha, quase de certeza [risos]. É a minha maior fã.
6. Qual a coisa mais estranha que um fã te pediu para fazeres?
Cantar num funeral.
7. Que objeto tem de ir sempre contigo para todo o lado?
Além do telemóvel e da carteira? Não sou de andar com muitas coisas, mas diria o maço de tabaco.
8. Qual o local para onde tens sempre de voltar?
Beja.
9. Preferes Banalidades ou Segredos e Searas? E porquê.
Prefiro Segredos e Searas porque é de dois artistas muito especiais, dois craques: o Edu Mundo e o João Pires, de uma banda incrível chamada Cordel. Há muito tempo que queria fazer música com eles. A música Banalidades é de um artista do Porto, o Diogo Brito e Faro, com quem já gravei três temas.
10. Qual a canção mais alentejana de sempre?
Roubei-te o Beijo é uma canção muito alentejana. “Estou de abalada /
Vou para as terras de Espanha / Tu não me queres / Aqui mais ninguém me apanha.” É muito alentejano.
Quem é Buba Espinho?
Nasceu em Beja, em 1995, e desde cedo conviveu com o meio artístico português. Quando tinha apenas 7 anos, Bernardo Espinho, ou Buba, acostumou-se a ver o pai na televisão, nas rádios ou em cima do palco com a banda Adiafa. Juntamente com o irmão Eduardo, guitarrista que acompanha Rui Veloso, absorveu as letras, as melodias e as subtilezas do cante alentejano e das músicas do mundo. Diz que aprendeu a cantar e a tocar guitarra naturalmente, mas fez-se músico nos Adiafa e em grupos como A Moda Mãe, Os Bubedanas, Mestre Cante e Há Lobos Sem Ser na Serra.
Em 2016, com 21 anos, ganhou a Grande Noite do Fado e projeção nacional. Daí até ao primeiro álbum, Buba Espinho, lançado em 2020, foi “um tirinho”. O segundo álbum, Voltar, chegou em 2023, e os próximos já têm data marcada: em 2024, para celebrar a inscrição do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade, e em 2025. Entre concertos, promoção do álbum e gestão da carreira, Buba Espinho multiplica-se em colaborações com os grandes nomes da música portuguesa da atualidade: Rui Veloso, António Zambujo, Ana Moura, Bárbara Tinoco ou os D.A.M.A. No final de tudo, regressa sempre a Beja para respirar o ar do seu Alentejo.
A revista Montepio agradece à Casa da Música a cedência do espaço para a entrevista a Buba Espinho.
A revista Montepio agradece à Casa da Música a cedência do espaço para a entrevista a Buba Espinho.