As vacinas para a Covid-19 vão acelerar o tratamento de outras doenças?

As vacinas para a Covid-19 vão acelerar o tratamento de outras doenças?
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urgiram em tempo recorde, mas são o resultado de décadas de trabalho da comunidade científica e do cruzamento feliz de condicionantes económicas e sociais. Saiba como as vacinas mRNA, que previnem os sintomas mais complicados da Covid-19, podem ser um farol de esperança no tratamento de outras doenças.

O dia 9 de novembro de 2020 ficará marcado com um dos mais importantes da História recente e influenciará, para melhor, a vida dos nossos filhos e dos seus descendentes.

Neste dia, a gigante farmacêutica Pfizer e a até então desconhecida BioNTech anunciaram a conclusão da terceira e última fase de testes e o desenvolvimento da primeira vacina global contra a Covid-19. Sete dias depois foi a vez de a biotecnológica norte-americana Moderna apresentar o seu fármaco, desenvolvido em colaboração com uma equipa da Universidade de Oxford.

O que têm em comum estas duas vacinas? A tecnologia mRNA, acrónimo que significa messenger ribonucleic acid – mensageiro de ácido ribonucleico, uma espécie de explicador em forma de proteína.

Este mensageiro transporta informações que são entregues aos ribossomas (os criadores das proteínas das nossas células) que lhes ensinam como devem comportar-se perante determinada situação. Por exemplo, defender-se de uma infeção viral extremamente agressiva como a provocada pelo SARS-Cov-2.

As vacinas são uma ferramenta crítica na batalha contra a Covid-19, e não só. A tecnologia mRNA pode acelerar o tratamento e prevenção de outras doenças graves – mas já lá vamos. Primeiro, vamos perceber por que razão a comunidade científica demorou menos de um ano a encontrar um antídoto para o vírus que parou o mundo.

Apresentada a 9 de novembro de 2020, a vacina da Pfizer espantou o mundo

O que explica a rapidez no desenvolvimento da vacina?

São três as razões. Em primeiro lugar, a investigação científica não começou no final de 2019, quando surgiram as primeiras notícias de infeções graves causadas pelo novo coronavírus.

“Há um trabalho de décadas no qual assenta a tecnologia subjacente às vacinas de ácidos nucleicos”, explica Miguel Prudêncio, investigador principal no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Professor Associado Convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Os coronavírus não são desconhecidos da comunidade médica e científica. Nos últimos vinte anos, vírus como o Sars-CoV-1 e o Mers-Cov, que estiveram ativos no Médio Oriente e nos países asiáticos, provocaram o alerta nas autoridades de saúde e levaram as farmacêuticas a investigarem eventuais vacinas para estes invasores.

Mas não só. “Após a pandemia provocada pelo vírus H1N1, em 2009, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um pedido para que se preparasse uma vacina modular que pudesse ser adaptada a agentes emergentes com rapidez”, revela Mário Macedo, enfermeiro especialista em saúde infantil, mestre em saúde pública e uma das vozes mais ativas sobre o tema nas televisões e nas redes sociais – conta com cerca de 14 mil seguidores no Twitter.

Em segundo lugar, os meios financeiros e o empenho da comunidade científica, “praticamente ilimitados”, tiveram um papel muito importante no sucesso do desenvolvimento da vacina.

Por fim, as agências reguladoras, responsáveis pela aprovação de novos fármacos, revelaram disponibilidade imediata para rever os dados gerados pelos diferentes ensaios clínicos. “Sem, no entanto, comprometerem quaisquer etapas de verificação da eficácia e segurança das vacinas”, assegura Miguel Prudêncio.

Não deixa de ser irónico, porém, que o sucesso no desenvolvimento de uma vacina segura seja uma das armas de desinformação que coloca em causa a segurança do fármaco. “As vacinas salvam vidas, aumentam a resiliência do sistema de saúde e recuperam a economia.

Além disso, em todo o mundo já foram administrados mais de 4 mil milhões de vacinas em 180 países. Se houvesse algum problema quanto à sua segurança, seria sobejamente conhecido.

Não podemos esquecer-nos de que estas vacinas são o medicamento mais escrutinado de sempre. E o primeiro e único em que a fase IV, de monitorização e vigilância na população geral, acontece em tempo real e à nossa frente”, garante Mário Macedo.

“O que explica a rapidez no desenvolvimento das vacinas? Em primeiro lugar, há um trabalho de décadas no qual assenta a tecnologia subjacente às vacinas de ácidos nucleicos”

Miguel Prudêncio

Vacinas tradicionais vs mRNA

Há uma diferença significativa entre as vacinas que consideramos tradicionais, como a da gripe, e as novas vacinas que combatem a Covid-19, que utilizam a tecnologia mRNA.

Se as vacinas tradicionais introduzem o vírus inativo, ou partes desse vírus, no corpo humano, uma espécie de bootcamp microscópico que ensina o corpo a defender-se dos ataques, as vacinas mRNA não usam o vírus que querem combater: ensinam como atacar a proteína spike (as pontinhas da coroa das representações do vírus que nos habituámos a ver e de onde surge o nome coronavírus), que fixa o vírus às células.

Os ribossomas das células, os tais elementos que produzem as proteínas, aprendem a produzir esta proteína spike, a reconhecê-la e, sobretudo, a defender-se dela.

São, assim, vacinas revolucionárias e que estão a ser encaradas como uma arma imprescindível no tratamento e prevenção de outras doenças. Antes de mais, devido à velocidade de resposta.

A Moderna demorou quarenta e dois dias a desenvolver uma vacina após ter recebido a sequência genética do novo coronavírus. A Pfizer afirmou que conseguiria desenvolver uma vacina específica para novas estirpes do vírus em cem dias.

Depois, pelo alcance do mRNA. Miguel Prudêncio salienta que estão em curso investigações no sentido de se desenvolverem vacinas mRNA contra doenças infecciosas tão prevalentes e importantes como o vírus da imunodeficiência humana (VIH), responsável pela SIDA, mas também a malária ou a dengue.

É legítimo esperar que esta tecnologia possa vir a estar na base de futuras vacinas contra a gripe sazonal. No entanto, o potencial de aplicação de metodologias baseadas no mRNA não se esgota nas doenças provocadas por microrganismos patogénicos – também abrange condições clínicas, como o cancro e as doenças associadas ao envelhecimento.

Se uma vacina mRNA ensinar o corpo a identificar as células com mutações cancerígenas, é possível fazer um tratamento muito mais eficaz e menos invasivo.

Deste modo, evita-se que o sistema imunitário, ou a quimioterapia ou a radioterapia, ataquem todo o organismo, não reconhecendo as células que têm mutações anómalas.

Neste caso não se trata de uma ação preventiva, como na Covid-19, mas de uma ação terapêutica e personalizada: são analisadas as mutações celulares de um doente em particular e as instruções carregadas no mRNA dizem respeito a essa pessoa. Não se está combater o cancro mas um cancro, prevendo-se, por isso, que a eficácia seja muito maior.

Outras esperanças vão surgindo. A BioNTech publicou, já em 2021, o resultado preliminar da aplicação de uma vacina, em animais, que terá feito cessar os efeitos de uma doença semelhante à esclerose múltipla e, em alguns casos, os fez regredir. É uma luz de esperança que se acende em túneis que parecem não ter fim.

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Covid-19 e outras doenças

Antes da pandemia atual, a tecnologia mRNA já salvava a vida de pacientes com doenças agressivas. A norte-americana Molly Cassidy, refere a National Geographic, foi uma das participantes num estudo clínico desenvolvido pelo Centro de Cancro da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, que testou a tecnologia mRNA numa combinação com medicamentos tradicionais de imunoterapia. “O tratamento salvou-me a vida”, contou Cassidy, que teve uma recaída de um tipo agressivo de cancro na cabeça e no pescoço.

Com a pandemia controlada pela vacinação em massa, a comunidade médica e os especialistas em saúde pública viram-se agora para a necessidade de olhar para as outras doenças que ficaram para trás. A medicina preventiva é fundamental para que eventuais problemas sejam identificados a tempo de terem tratamento.

“A pandemia da Covid-19 fez-me estar mais alerta com as questões de saúde. Somos três lá em casa e, claro, fiquei preocupada. Acredito que ainda vamos estar envolvidos nesta guerra durante mais uns anos”, confessa Sofia Moradias, Associada Montepio que vive nos arredores de Lisboa.

Sofia teme que haja “um aumento de casos oncológicos, insuficiências renais ou diabetes”, enfermidades que poderiam ter sido mitigadas se não houvesse o necessário encaminhamento de pessoal médico para o combate à Covid-19. Desde março de 2020 que parte dos recursos de saúde de um país – médicos, hospitais, camas, medicamentos – ficou ao serviço da epidemia. E as outras doenças?

“Se conseguirmos, pelo menos, controlar a Covid-19, tornando-a uma doença endémica, será possível reduzir a mortalidade por todas as causas, libertar recursos para diagnosticar e tratar outras doenças, mantendo tudo o que aprendemos nos últimos dezoito meses. O avanço da telemedicina e as melhores práticas de controlo de infeção hospitalar são dimensões da saúde que vieram para ficar”, afirma Mário Macedo.

À medida que os números da pandemia vão aumentando, duas certezas persistem: os últimos meses não se apagarão da nossa memória mas, por outro lado, podem estar na génese de uma revolução sem precedentes nos avanços da medicina em todo o mundo.

Como proteger a sua saúde na próxima década?

Quando se trata de saúde, o melhor é ter um plano. Estar atento ao corpo é importante, mas também perceber a fase da vida em que nos encontramos e qual a melhor estratégia para encarar e proteger a nossa saúde nos próximos anos.

A Associação Mutualista Montepio disponibiliza aos seus associados um leque muito completo de soluções de saúde e bem-estar. Desde logo, o Seguro Montepio Saúde. Disponibilizado pela Lusitania e exclusivo para associados com o Plano Montepio Saúde ativo, o Seguro Montepio Saúde dá acesso à rede AdvanceCare e pode ser subscrito a partir de 80 euros por ano.

“Um seguro de saúde não substitui o Serviço Nacional de Saúde, mas é uma grande ajuda no rastreio de doenças e eventuais internamentos. No nosso caso, somos uma família de três pessoas, todas com seguro de saúde, e habituámo-nos a usá-lo como primeira opção”, afirma Sofia Moradias.

Os associados Montepio têm ainda à disposição, sem qualquer custo, limite de adesão ou período de carência, o Plano Montepio Saúde. Este plano dá acesso à rede de saúde Montepio, desenvolvida em parceria com a AdvanceCare, e, entre outras vantagens, dá acesso a um médico ao domicílio, vinte e quatro horas por dia/sete dias por semana, e consultas online por 18 euros.

Os associados Montepio usufruem, ainda, de condições muito vantajosas em serviços de saúde ao domicílio, teleassistência, nas residências seniores e em centenas de parceiros na área da saúde e bem-estar. Pronto para uma vida mais saudável?

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