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Contracorrente: as pessoas que não seguem as massas

Contracorrente: as pessoas que não seguem as massas
12 minutos de leitura
Fotografias de Rodrigo Cabrita e Maria João Gala
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progresso faz-se de pessoas que veem mais longe. De Da Vincis, Curies ou Jobs. Mas há inovadores em cada casa, bairro ou cidade do nosso país. São pessoas ou instituições que seguem caminhos opostos, um trilho próprio, único, e com isso inspiram outros a seguirem-lhes os passos.

Cada época tem os seus empreendedores ou heróis, pessoas que ousam seguir um caminho diferente, contribuindo com as suas ideias e ações para deixar um mundo melhor. É dessa fibra, também, que é feita a história do Montepio Associação Mutualista.

A época de oitocentos era particularmente difícil para os funcionários públicos. Apesar de desenvolverem as suas atividades profissionais diariamente, o salário nem sempre era pago pelo Estado. Nascido em Tavira, Francisco Álvares Botelho vivia em Lisboa, para onde se mudou para lecionar as disciplinas de Letras e Gramática. Em 1840, aos 37 anos, vivia apenas dos rendimentos do seu trabalho e enfrentava as mesmas dificuldades de outros funcionários da Fazenda Pública, como ele.

Lançou-se então no empreendimento de escrever os estatutos para uma associação de socorros mútuos, como as que, segundo as notícias, já existiam em França ou Inglaterra. O objetivo era criar uma instituição que protegesse a sua classe profissional. Chamou-lhe Plano do Montepio Literário, que fez circular entre conhecidos para que assinassem.

Em março, publicou um anúncio nos jornais O Grátis, Periódico dos Pobres e O Nacional: “Todos os empregados que recebam ordenado do Estado, tanto os signatários do ‘Plano’ como os que ainda não assinaram, são convidados a reunir-se no dia 19 de março, às 11 horas, na Academia das Belas Artes (…) para nomearem a Comissão que redija os Estatutos.”

O encontro contou com 269 pessoas que deram início ao projeto de uma associação que, poucos anos depois, mudaria o nome para Montepio Geral e receberia como associados outros trabalhadores além dos funcionários do Estado.

“Muitas viúvas e órfãos devem o pão quotidiano, se não o bem-estar doméstico, podemos dizer mesmo a existência, a uma Associação fundada por tão benemérito cidadão”, disse-se dele numa homenagem dos órgãos sociais do Montepio, em 1875. Tal como Álvares Botelho há mais de 180 anos, também David Pina, Débora Laborde, Henrique Sobreira e Germano de Sousa ousam todos os dias fazer diferente e melhor. Estas são as suas histórias.

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Muitas vidas numa só

Germano de Sousa estava a concluir a especialidade de Patologia Clínica quando a revolução de Abril de 1974 derrubou o regime fascista em Portugal. Nessa altura, o laboratório de análises clínicas onde trabalhava “para arredondar aquilo que recebia” do hospital ficou sem responsável. O médico que dirigia a organização fugiu para o Brasil, na sequência das transformações políticas em curso no País, e perguntou-lhe se queria ficar à frente do laboratório.

“Disse-lhe que sim e, com outro médico, passámos a assumir todo o trabalho do laboratório. O primeiro ano e meio foi muito difícil. O estado não pagava. Entretanto, os nossos caminhos separaram-se e, com a ajuda dos meus filhos, jovens e patologistas clínicos também, fomos, a pouco a pouco, desenvolvendo o que hoje é o maior grupo laboratorial de Portugal”, relembra.

A vasta rede de laboratórios que Germano de Sousa criou – são 17 laboratórios e 550 postos de colheita em todo o País – explica-se, segundo o próprio, pela “qualidade, inovação e organização” que permitiu que se tornassem mais rentáveis. “Trabalhamos em todas as áreas possíveis da medicina laboratorial, das mais clássicas às de ponta, incluindo patologia clínica, anatomia patológica e genética. O laboratório de genética e genómica do Grupo Germano de Sousa é inigualável. Penso que não haverá outro igual em Portugal”, esclarece.

O gosto de Germano de Sousa pela Medicina nasceu ainda na infância, nos Açores. “Interessava-me a biologia e, ao mesmo tempo, queria ajudar os outros. Achei que era a profissão mais bonita do mundo”, diz o patologista que se formou na Universidade de Coimbra onde, além do curso, se empenhou em grupos de teatro e de canto e se tornou próximo dos estudantes que se opunham ao regime de Salazar.

Já formado, e porque a PIDE o proibiu de ser interno no hospital ou assistente na faculdade, foi colocado no serviço militar em Tomar, sendo depois enviado para Angola. Durante dois anos, fez de tudo. “Tanto exercia pediatria, como clínica geral ou obstetrícia. Foi uma prática intensa”, recorda, contando que, naquele país africano, fez o parto da própria filha. “Na altura, senti uma grande responsabilidade, mas hoje orgulho-me muito disso.”

Em 1971, após dois anos intensos na Guerra Colonial, Germano de Sousa voltou a Portugal Continental, onde se dedicou à patologia clínica. “Fui trabalhando, crescendo e construindo o que hoje tenho”, recorda o médico, cuja carreira ficou também marcada pelo exercício das funções de bastonário da Ordem dos Médicos, entre 1999 e 2004. “Cheguei a ter várias propostas para comprar o laboratório. Uma das vezes, chamei os meus filhos, que já trabalhavam comigo, contei-lhes e disseram-me: ‘Isto é a nossa vida.’ E recusei, até hoje, todas as ofertas que recebi”, relembra.

Aos 81 anos, continua a ir todos os dias ao laboratório que ostenta o seu nome e que é parceiro do Montepio Associação Mutualista: “Quero continuar a desenvolver as novas e magníficas descobertas que se têm feito e que dizem respeito ao diagnóstico.”

O sonho da primeira medalha olímpica

Assim que, a 2 de agosto, terminou o combate com o zambiano Patrick Chinyemba, David Pina deu um salto com o punho cerrado no ar. Tinha acabado de fazer história, conquistando a primeira medalha olímpica de sempre para Cabo Verde – e apenas a segunda de toda a África lusófona, depois do bronze da atleta moçambicana Maria de Lurdes Mutola, em 2000. Dois dias mais tarde confirmaria, num novo combate, o bronze na categoria -51 kg, em boxe.

Este dia vitorioso nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 poderia ter sido muito diferente, não fora a sua própria obstinação e a persistência do treinador, Bruno Carvalho. Mas recuemos apenas dez meses, até um momento crucial e que poderia ter sido de rutura definitiva com a prática do boxe. Em setembro de 2023, David Pina anunciou que tinha de parar de treinar para os Jogos e ir trabalhar. A magra bolsa de 700 euros que recebia do Comité Olímpico Internacional (COI) não chegava para ajudar a pagar as contas da família – neste momento vive com a mulher e o filho, de 4 anos, na Margem Sul, e prevê que a filha de 7 anos, que ainda está em Cabo Verde, se junte em breve. Até tinha dificuldade em despender os 40 euros necessários para o passe, que lhe permitia ir de transportes para os treinos, em Odivelas – de manhã, à tarde e em algumas ocasiões com exercícios físicos até às 23h. “Só vivi para o boxe aqui em Portugal. Se trabalhar não dá para treinar. Eu não vivia do boxe mas vivia para o boxe”, conta o atleta de 27 anos.

Foi mesmo obrigado a parar. Nessa altura não sabia por quanto tempo. “Tive que deixar de treinar para trabalhar”, conta. Esteve como carpinteiro no Algarve, onde ganhava mais dinheiro do que o valor da bolsa. Em dezembro, Bruno Carvalho telefonou-lhe. Tinha de retomar os treinos para conseguir a qualificação para Paris. “‘Se não fores ao fundo do poço, não sabes qual é a felicidade de estar lá em cima’, disse-me. Tive que parar, foi tempo para refletir”, explica. A ambição de um título acabou por se revelar mais forte e regressou à rotina no Privilégio Boxing Club. “Deixar de trabalhar e voltar a treinar foi o suficiente para conseguir este feito histórico para o meu país”, afirma.

O treinador, que David Pina descreve “quase como um pai, um conselheiro, mentor e amigo”, acolheu-o em Portugal depois de David ter estado como atleta olímpico em Tóquio, em 2021, onde perdeu logo no primeiro combate. “Fui lá [ao Privilégio Boxing Club, em Odivelas], gostei da metodologia dele. Só vim para Portugal para me qualificar para os Jogos [de Paris]”, conta. As condições materiais e técnicas em Cabo Verde não se comparavam ao que passou a ter à disposição em Odivelas. Além de Bruno Carvalho, David é hoje acompanhado por uma equipa que inclui um fisioterapeuta, um psicólogo e um médico, sendo todos os profissionais proporcionados pelo programa do Comité Olímpico.

David gostava que mais pudessem ter oportunidade em Cabo Verde e acredita que esta primeira medalha olímpica que conquistou para o seu país poderá contribuir para uma mudança. “Conseguimos esse resultado, o que quer dizer que, se melhorarmos ao nível das condições materiais e humanas, da formação de treinadores, vamos conseguir melhores resultados em Cabo Verde e na África lusófona. O talento está lá, faltam pessoas para explorarem as nossas capacidades, como o Bruno fez comigo”, explica à revista Montepio.

Após os Jogos esteve numa tour pelo seu país, onde foi recebido como um herói, com “desfile de carros, motas e batucadas” na capital do país e uma festa na sua cidade natal, Santa Cruz. “Foi um festival de emoções. Eu via as emoções nos olhos das pessoas”, descreve. Recebeu mensagens de felicitações de artistas que muito admira, como Lura e Dino de Santiago. E foi homenageado pelas autoridades nacionais. Depois desses momentos nas nuvens, David Pina já voltou aos treinos no Privilégio Boxing Club, em Odivelas, com o seu treinador Bruno Carvalho. “Queremos mais. Queremos ser campeões de África, campeões do mundo. É voltar a sonhar e lutar para ter melhores resultados. Eu quero ser campeão olímpico daqui a quatro anos.”

Apagar o lixo dos oceanos

Quando Débora Laborde começou a percorrer o mundo, pouco depois de ter atingido a maioridade, apercebeu-se da quantidade de lixo existente nos oceanos e também viu o impacto que as alterações climáticas tinham nos mais diversos territórios. “Recordo a tristeza no rosto de um homem, no Belize, que me contou que, há sete anos, era possível ver 200 tubarões ali. Atualmente, num dia de sorte, avistam-se apenas cinco”, conta a jovem que, perante a situação, e a juntar aos seus afazeres de estudante universitária e de bombeira profissional, no quartel de Carnaxide, decidiu dar o seu contributo em defesa do meio ambiente. No final de 2021 fundou, juntamente com o marido, Rúben Galante, a associação Oceanum Liberandum, que se dedica a ações de limpeza dos oceanos e das praias.

Desde então, Débora Laborde tanto está empenhada em atividades de remoção de lixo, muitas das quais envolvem mergulho, em diversas zonas do globo, como socorre vítimas de acidentes ou combate incêndios enquanto bombeira. “Faço turnos [no quartel] de 24 horas e depois fico em casa 72 horas. É esse tempo que uso para a associação e para os estudos”, afirma. “Não podemos esperar pela motivação para agir, mas manter a consistência.”

Apesar de ter apenas 25 anos, Débora Laborde tem um percurso invulgar em comparação com outras pessoas da mesma idade. Aos 18 anos, tornou-se bombeira profissional “para poder retribuir, de alguma maneira, o que um dia recebeu”. O desejo surgiu depois de uma experiência pessoal, acerca da qual não quer adiantar pormenores.

A associação acabou também por levá-la a fazer uma viagem de seis meses pelo mundo, com o marido. Entre outubro de 2023 e abril de 2024, esteve em países tão diferentes como Japão, Filipinas, Austrália, Indonésia, Maldivas, Singapura e Coreia do Sul. “Participámos em limpezas e desenvolvemos ações de consciencialização em aldeias desfavorecidas”, recorda a jovem, acrescentando que em Bali, por exemplo, reuniu com a associação ambientalista Sungai Watch e com o governador local, no âmbito de uma ação de limpeza de um rio. Nestas viagens, começou também a ganhar forma um documentário baseado naquilo que Débora Laborde e o marido foram vendo. “Iniciámos algumas filmagens e entrevistas”, diz, acrescentando que o projeto “levará algum tempo” a ficar concluído.

Em quase três anos de existência, a Oceanum Liberandum também conquistou cinco recordes do Guinness, entre os quais o da maior limpeza subaquática do mundo em 12 horas e o de maior número de mergulhadores certificados, em simultâneo, numa campanha de lixo subaquático.

À medida que viaja, Débora Laborde vai tendo cada vez mais consciência das ameaças ao planeta. “Há espécies a desaparecer, pesca em excesso. Vi famílias que passavam fome porque já não tinham o que pescar”, diz a estudante que frequenta, atualmente, a licenciatura em Engenharia de Proteção Civil, no Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC), em Lisboa. Olhando para Portugal, Débora Laborde considera que os portugueses estão cada vez mais cientes da necessidade de adoptar comportamentos sustentáveis. E observa: “Há sinais positivos à nossa volta.”

Turnover profissional

Henrique Sobreira tinha aquilo que habitualmente se considera uma carreira de sucesso e uma vida confortável. Aos 42 anos, trabalhava no departamento jurídico de um dos maiores grupos empresariais do País, onde exercia as funções de responsável legal de Portugal, e tinha acumulado experiência profissional na área da advocacia em países como Moçambique e Timor-Leste. Em 2021, com um ritmo de trabalho intenso, e numa fase em que Portugal saía da segunda vaga da Covid-19, anunciou a saída. “‘Vais fazer o quê?’, perguntavam-me muitas vezes, e respondia-lhes: ‘Vou ser feliz’.”

Há algum tempo que Henrique Sobreira, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, se questionava sobre o modo como geria o tempo. “O tempo é um bem demasiado precioso e tratamo-lo muito mal. Gerir melhor o tempo é dar importância ao que é verdadeiramente importante, no meu caso a família e os amigos”, explica, contando que a perda repentina de um amigo, num acidente de mota, e a constatação de que já vivera mais anos do que o seu pai, que morreu muito jovem, contribuíram para se questionar sobre o que andamos aqui a fazer. E diz: “Nessas reflexões sobre o sentido da vida, pensava também em fazer algum voluntariado.”

Nessa altura, Henrique Sobreira soube que a Ovarense Basquetebol, o clube onde jogou na infância e na adolescência, estava em risco de ficar sem direção. “Assumi o desafio pro-bono de ficar à frente do clube e de tentar devolver aquilo que me deram”, diz, enfatizando “a função social relevante” desempenhada pela instituição que, atualmente, é frequentada por mais de 200 crianças e jovens, entre os 4 e os 18 anos.

A par do trabalho na Ovarense Basquetebol, Henrique Sobreira vai compondo o orçamento mensal prestando alguns serviços na sua área de formação. “Claro que o rendimento não é comparável ao que tinha numa grande empresa”, confessa.  “Não sou milionário, logo disso mas ao longo da minha carreira fiz uma gestão financeira cuidada e que me permite estar liberto de dívidas pesadas a terceiros”, diz, explicando que teve de ajustar os gastos quando mudou de vida.

Refletindo sobre a mudança na sua vida, Henrique Sobreira pergunta-se se seremos realmente livres. “Somos muitas vezes levados por aquilo que a sociedade espera de nós: nascer, estudar, casar, ter filhos… Penso que as pessoas devem questionar-se se estão no caminho certo. Muitas não são verdadeiramente felizes”, afirma. “Sendo eu a prioridade do meu dia, posso também dedicar-me mais aos outros.”

Desde que saiu da empresa passou a ter mais tempo para estar com a família – conseguiu acompanhar a mãe, que acabaria por morrer meses depois. Tem também mais horas na agenda para praticar desporto e viajar.

Nos últimos meses, o advogado, atualmente com 45 anos, tem pensado em redirecionar a sua carreira. “Estou a gostar muito desta experiência no clube. A gestão desportiva agrada-me. Tenho feito alguns cursos e os próximos tempos podem passar por aí – sempre sem pressa.” E assegura: “Com exceção da perda da minha mãe, estou mais feliz do que há quatro ou cinco anos.”

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