Como organizar um evento sustentável?
“Os eventos são um veículo poderoso para comunicar e disseminar o tema da sustentabilidade em todo o mundo”, mas isto só acontece se o próprio evento tiver o máximo respeito pela ecologia. A conclusão é referida no Guia para Eventos Sustentáveis do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, no qual líderes de diferentes setores traçam diretrizes para tornar o universo dos eventos mais verde.
Organizar um evento sustentável não se resume a substituir garrafas de plástico por copos reutilizáveis. Já em 2011, a norma ISO 20121 sedimentou o conceito de sustentabilidade, ao criar regras para áreas como a mobilidade, o consumo energético e a produção de resíduos. “Temos de travar esta máquina de produção contínua”, alerta Susana Fonseca, colaboradora da associação ambiental Zero para a área da economia circular e substâncias químicas. Neste artigo, ajudamo-lo a saber o que deve fazer para cumprir a sua parte.
6 dicas para organizar um evento sustentável
1. Seja responsável na produção e no consumo
A produção de resíduos e o consumo de materiais e de energia estão no topo da lista de prioridades quando se está a planear um evento sustentável. Uma estratégia que pode adotar é colocar as questões certas para perceber o que é, afinal, inevitável para o seu evento. Serão mesmo necessários folhetos e brindes? É possível rentabilizar a sinalética? O sistema de climatização é o mais adequado? A partir das respostas certas, elabore uma lista de objetivos, onde devem constar:
- A utilização prolongada dos materiais, evitando materiais descartáveis;
- A reutilização e a reciclagem, evitando a incineração de resíduos;
- A diminuição dos consumos de água, utilizando, por exemplo, “torneiras com temporizadores e redução de caudal” e optando por sanitas secas, como sugere Susana Fonseca, da Associação Zero;
- Um plano de redução do consumo de energia, com recurso, sempre que possível, a energias alternativas e sistemas eficientes, como iluminação LED. “Às vezes também é preciso repensar o que se tem e avaliar se não existirá iluminação a mais”, alerta a ambientalista;
- Quanto a inevitáveis emissões poluentes, pode compensá-las com créditos de carbono certificados inseridos em projetos que visam reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, como aconselha o Guia para Eventos Sustentáveis.
2. Ofereça produtos locais e da época
O seu evento inclui catering? Aqui o impacto ambiental pode ser severamente reduzido. Se pensar de modo ecológico, poderá adotar medidas que impactam desde as embalagens à escolha dos produtos alimentares.
- Privilegie o reutilizável em detrimento do descartável, responsabilizando cada participante, por exemplo, pelo respetivo copo e prato até ao final do evento, para conseguir controlar a produção de resíduos. O ideal, como exemplifica Susana Fonseca, seria, até, que “o mesmo copo circulasse por vários festivais, como já acontece na Alemanha”;
- Pense num menu simples que não exija a utilização de muitos talheres;
- Considere a possibilidade de instalar dispensadores de bebidas, evitando a utilização desnecessária de embalagens;
- Opte por uma alimentação à base de produtos orgânicos, locais e sazonais, reduzindo a pegada ecológica e respeitando o ciclo da natureza. “Sabemos que as opções vegetarianas têm, à partida, uma pegada menor, mas não podemos exigir isso a todos. O ideal serão, por isso, soluções de dieta mediterrânica”, indica Susana Fonseca.
3. Opte por um local com boa acessibilidade e promova a mobilidade suave
A mobilidade está na base de grande parte das emissões de gases poluentes. Há vários eixos em que estas podem ser reduzidas e, em alguns casos, anuladas, tornando o seu evento mais sustentável.
- Selecione, se possível, um local com boa acessibilidade, integrado na rede de transportes coletivos e próximo de ciclovias;
- Opte por um sistema de mobilidade suave para a sua equipa e para os participantes, privilegiando sempre os veículos sem emissões poluentes e os transportes coletivos;
- Tenha em consideração os tipos de transporte de carga aos quais vai recorrer (terrestres, aéreos ou marítimos, movidos a eletricidade, GPL ou híbridos);
- Pense que quanto menor for a distância de transporte dos materiais que utilizar, menores serão os custos e a pegada ecológica;
- Disponibilize bicicletas e parques para estacionamento destas;
- Promova o transporte através de autocarros próprios e sistemas de boleias.
4. Contribua para a qualidade do ar
Sabia que as suas decisões também podem ter impacto na qualidade do ar? Saiba como:
- Incentive a mobilidade suave: deslocação a pé ou de bicicleta, por exemplo;
- Privilegie lugares com vegetação em redor, sem causar impacto no local;
- Equacione a necessidade de utilização de sistemas de ar condicionado. Poderá, por exemplo, utilizar ventiladores ou outras soluções de climatização natural.
5. Selecione os parceiros com os quais vai trabalhar
Antes de “fechar negócio” com um fornecedor ou parceiro, investigue se seguem uma política de sustentabilidade. Para organizar um evento sustentável, todos os intervenientes devem estar em sintonia com este objetivo. Como averiguar esta questão?
- Privilegie fornecedores locais para reduzir a pegada ecológica do evento e aumentar o envolvimento da comunidade local;
- Selecione fornecedores com frotas eficientes (que incluam veículos elétricos, híbridos ou a biodiesel) e que pratiquem a eco condução;
- Se o seu evento implicar estadias, averigue a política de sustentabilidade dos alojamentos parceiros.
6. Envolva a comunidade local
A sustentabilidade não envolve apenas o plano tangível. Organizar um evento é, cada vez mais, uma ação que deve contar com a comunidade e o desenvolvimento locais. Assim, ao planear o seu evento, considere:
- Colaborar com associações e empresas locais;
- Envolver a sociedade civil e fomentar o emprego a nível local;
- Promover a diversidade e a inclusão social.
Vai gastar mais ao organizar um evento sustentável?
O Guia para Eventos Sustentáveis salienta a redução de custos relacionada com o menor consumo energético e hídrico. Por outro lado, deve ter em conta a sua reputação enquanto organização. Optar por um evento sustentável pode não ser a solução mais económica, mas esse não é o objetivo. “Foi a mentalidade do lucro que nos trouxe até onde estamos hoje e as empresas não se podem focar apenas nisso”, sublinha Susana Fonseca. Além disso, “estamos a pagar preços cada vez mais justos por este tipo de soluções [mais verdes]”, assegura a ambientalista.
Correr pela sustentabilidade na Montepio Meia Maratona de Cascais
Correr requer unicamente energias limpas, mas, nas corridas populares, os brindes e garrafas de plástico não contribuem para um mundo sustentável. A pensar nisso, a Montepio Meia Maratona de Cascais – que decorre, este ano, a 23 e 24 de abril –, segue um plano exigente que a dotou de um selo verde.
O plano de sustentabilidade da Montepio Meia Maratona de Cascais, apoiada pela Associação Montepio, “assenta na política dos 3 R’s: reduzir, reciclar e reutilizar”, afirma Hugo Sousa, diretor-geral da HMS Sports, entidade que promove o evento. Pensando nas áreas da logística e comunicação, mobilidade e transportes, redução e reutilização de materiais e sensibilização/pedagogia, o projeto de sustentabilidade “acabou por envolver entidades, parceiros e atletas e abrangeu as principais provas da HMS Sports”.
Em 2019, o primeiro ano de implementação do plano, “foram eliminados 30 mil sacos de plástico, [que eram] utilizados no embalamento de t-shirts, dorsais, alfinetes, kits de partida e de meta e maçãs entregues na meta. Os troféus de acrílico foram substituídos por plantas e as emissões de CO2 foram minimizadas através do planeamento antecipado da distribuição dos materiais, da utilização de carros elétricos, do incentivo ao uso de transportes públicos e de meios de transportes não poluentes”, entre outras medidas. Nas zonas da partida e da meta, membros da Sociedade Ponto Verde incentivaram à separação do lixo e à reciclagem e, no final do evento, foram “recolhidas e enviadas para reciclagem 30 150 garrafas de plástico”.
Desde esse ano, a Montepio Meia Maratona de Cascais utilizou menos 70 mil sacos de plástico do que o previsto. “Temos procurado, sempre que possível, produzir peças gráficas intemporais, que permitam a utilização repetida ao longo dos anos”, revela Hugo Sousa.
Mas a corrida não se esgota na sua organização e a sensibilização é uma componente central de um evento sustentável. “Alertar os atletas para as medidas no âmbito do evento verde” é uma das preocupações da HMS antes, durante e depois da prova desportiva. Como sublinha, “todos devem contribuir para a concretização destes objetivos, porque todos são peças fundamentais deste puzzle”.
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