Num bairro social de Setúbal nasce um lugar para “respeitar a terra”
Fernando João da Cruz, músico, e João Patronilo, programador, são amigos de longa data, crescidos em Setúbal. Durante a juventude, sentiram a falta de atividades sociais e culturais na cidade e não queriam que esta fosse uma realidade perpétua. Em 2016, depois de terem estado fora durante o programa Erasmus, surgiram algumas “ideias românticas” e uma muito concreta: a criação da Associação Cultural Novas Ideias (ACNI), com o objetivo de tornar mais dinâmica a vida da juventude setubalense. “Quisemos desenvolver a parte social e combater esta falta de atividades”, afirma Fernando João, de 32 anos, presidente da associação.
Começaram pelo desporto, fomentando a criação de uma equipa feminina de basquetebol, seguiram pelo caminho cultural, organizando eventos maioritariamente na área da música. Até que veio a pandemia. Com “outra maturidade”, começaram a pensar em projetos em áreas diferentes, como a social e a ambiental. Em 2021, surgiu a iniciativa “As Traseiras”, um misto de horta comunitária, palco de sensibilização ambiental e local de convívio intergeracional, e um dos primeiros jardins do género num bairro social do país. O projeto venceu a 11.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio.
De espaço vazio a espaço verde
A sede da ACNI funciona, desde 2020, no bairro social 2 de Abril, em Setúbal, e foi dali que Fernando, João e os restantes associados começaram a olhar com mais atenção para um “espaço vazio, vandalizado” que poderia ganhar vida. No início de 2021, surgiu o projeto “As Traseiras”, um lugar que junta as noções de sustentabilidade ambiental, convívio intergeracional, comunidade e aprendizagem num jardim.
“O planeta Terra é a única coisa que temos e nós queremos combater as alterações climáticas. Pensámos: por que não criar um jardim sustentável aqui, num bairro que às vezes está sujo e onde as pessoas são pouco sensíveis a este tema?”, expõe Fernando João da Cruz.
Por outro lado, o 2 de Abril “é um bairro envelhecido e a pandemia trouxe ainda mais isolamento às pessoas”, enquadra o presidente da associação, sublinhando a urgência de combater esta desagregação social num bairro, precisamente, social.
“As Traseiras” é, assim, um lugar em permanente construção e mutação, um lugar vivo onde as mãos de todos são bem-vindas para cultivar, cuidar, conviver, aprender e “respeitar a terra”, como frisa Fernando. Mas também é uma forma de dar “uma nova imagem a este bairro social e, depois, quem sabe, a outros”. “Queremos que esta possa ser uma amostra replicável noutros bairros”, adianta o presidente.
A importância do prémio
As primeiras ações, como pintar paredes e limpar o terreno, tiveram lugar em novembro de 2021. Agora, a associação vai continuar o trabalho com a comunidade, através de formações sobre agricultura sustentável e momentos culturais em torno do jardim. “É importante que este seja um lugar de convívio entre diferentes gerações”, insiste o presidente.
“O desenvolvimento do projeto depende muito dos financiamentos, dos apoios que consigamos ter. Temos o apoio da Junta de Freguesia de São Sebastião, que tem sido muito importante, e tivemos agora este prémio, que nos deu um grande ânimo. Não ganhávamos um prémio desde 2016 e é difícil manter a motivação quando há poucos apoios e trabalhamos todos como voluntários. Já andávamos um pouco desanimados e esta notícia veio dar-nos força para continuar”, confessa Fernando João da Cruz.
Com o Prémio Voluntariado Jovem Montepio (1 000 euros de participação, 1 000 euros para o projeto e 250 euros para cada um dos associados responsáveis por implementar a iniciativa, Carlos Santos, Erica Nunes e Tiago Paciência), a ACNI vai investir numa campanha em vídeo, com o objetivo de dar mais visibilidade ao projeto e torná-lo mais facilmente replicável noutros territórios.
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