Da Bitcoin à Dogecoin: guia para investir em criptomoedas
O investimento em criptomoedas era algo, há não muito tempo, visto como obscuro, opaco, perigoso e exclusivo para um nicho restrito de investidores. Esta visão deixou de fazer sentido e hoje as criptomoedas fazem parte da carteira de muitos investidores, muitos deles institucionais, o que lhes deu um grande fôlego e visibilidade.
Ainda assim, comprar criptomoedas como a Bitcoin ou a Dogecoin não deixou de ser um investimento (muito) arriscado e criticado por vários atores do mercado: investidores, analistas, economistas e outros especialistas do mundo financeiro. Por outro lado, a maior visibilidade das criptomoedas motivou um forte aumento do escrutínio, sobretudo por parte dos reguladores, o que acabou por ser positivo para a indústria que aumentou o seu nível de fiabilidade.
Conhecer antes de investir
Se pretende investir na Bitcoin ou outra moeda digital, é fundamental que cumpra, primeiro, um dos requisitos mais básicos e relevantes a seguir por qualquer investidor: nunca deve comprar um ativo que não sabe o que é e não percebe como funciona.
É por isso fundamental que, antes de pensar em investir, saiba o que é uma criptomoeda e como funciona este mercado. “É um lugar-comum, mas a formação e educação deveriam ser palavras a considerar por alguém que inicia o contacto com investimentos em criptomoedas”, salienta Pedro Borges. O cofundador e CEO da Criptoloja, a primeira corretora de criptomoedas licenciada em Portugal, adverte “que a primeira lição que todos deveriam saber é que não vão ficar ricos com criptomoedas”.
A valorização meteórica da Bitcoin atraiu muito interesse de investidores e pessoas iludidas pela expectativa de ganhos fáceis e rápidos. É fácil de entender o que são ações, divisas, obrigações ou matérias-primas. É menos trivial entender o que são e como funcionam as criptomoedas, mas está longe de ser um “bicho de sete cabeças”.
Os criptoativos são representações digitais de ativos baseadas em tecnologia blockchain. Não são emitidos por um banco central, por instituições de crédito ou de moeda eletrónica, mas podem ser utilizados como forma de pagamento numa comunidade que os aceite. Podem ter outras finalidades, como a atribuição do direito à utilização de determinados bens e serviços ou proporcionar um retorno financeiro.
Esta definição, utilizada pela CMVM, é uma das muitas disponíveis para explicar de forma sucinta o que são as criptomoedas. O regulador português tem um conjunto de perguntas e respostas sobre criptoativos destinado aos investidores. Aconselhamos também a audição deste podcast do Banco de Portugal, no qual o regulador alerta para os riscos dos ativos virtuais.
Há muita (e boa) literatura sobre as criptomoedas, para diferentes tipos de especialização, pelo que existe uma panóplia de conteúdos que poderá ler para enriquecer os seus conhecimentos sobre este tema. Note, contudo, que a desinformação também é muita, pelo que deve ser muito criterioso no que seleciona para ler e ouvir, fugindo de todo o tipo de promessas de ganhos fáceis e sem risco.
Evitar a armadilha da ganância
“Infelizmente, a maior parte das pessoas que inicia o investimento em criptomoedas vem motivada por um forte apelo de ganância e perspetivas de ganhos elevados num curto espaço de tempo”, adverte Pedro Borges. O responsável assinala que a busca de ganhos rápidos leva a que “rapidamente se perca o bom senso e se esqueçam regras básicas como a gestão de risco”. O resultado? Troca-se a “lógica de investimento pela lógica de jogo.”
O CEO da Criptoloja elege mesmo a ganância como a principal armadilha para quem investe em criptomoedas. Por outro lado, o especialista salienta que, “sendo uma indústria nova e relativamente pouco regulada, acaba por ser um campo fértil para vendedores de sonhos e esquemas para enganar as pessoas”. Muitos são “absolutamente evidentes”, mas “não são percebidos por quem deles é vítima”.
Tome nota
Os ativos financeiros são classificados em função do nível de risco, sendo que os criptoativos estão no topo dos mais arriscados, devido à forte volatilidade que apresentam. É fundamental que tenha esta ideia bem consolidada antes de investir neles. Fica exposto a ganhos consideráveis, mas também a perdas de capital acentuadas.
Escolher corretora e abrir conta
Tendo o conhecimento do seu lado e tomada a decisão de investir, é altura de saber como pode investir nas criptomoedas. Primeiro tem de escolher uma corretora especializada ou uma das instituições financeiras que também já oferecem este serviço. É nestas “bolsas cripto”, ou exchanges, que pode transferir o seu dinheiro para transacionar criptomoedas ou trocar diferentes moedas digitais, à semelhança das bolsas de valores mobiliários para ações ou das casas de câmbios para divisas. Existe também a possibilidade de transacionar moedas digitais diretamente com o comprador e vendedor, mas evite esta modalidade, pois o risco de fraude é elevado.
Sendo a segurança uma das palavras-chave no mundo das criptomoedas, é importante que selecione uma corretora com reputação no mercado e que seja aprovada pelos reguladores. A nível internacional a Coinbase e a Binance são as mais conhecidas. Em Portugal, a Criptoloja foi a primeira a obter licenciamento pelo Banco de Portugal, mas existem mais corretoras autorizadas, como a Bison Digital Assets e a Utrust. A lista completa pode ser consultada aqui. Existem ainda outras corretoras online tradicionais, como a Degiro e XTB, que oferecem o mesmo serviço em Portugal.
Tenha em atenção a gama de serviços que cada corretora oferece, as comissões que cobram e as moedas digitais que disponibilizam. Obtenha também informação sobre o nível de segurança da corretora.
Escolhida a “bolsa cripto”, abra uma conta para começar a transacionar. Terá de transferir dinheiro e disponibilizar um conjunto de informações, com dados pessoais e documentação, algo semelhante a uma abertura de conta numa instituição financeira tradicional.
Escolher o tipo de carteira
Se comprar uma ação ou obrigação, esses ativos ficam disponíveis na sua conta. Nas criptomoedas não é bem assim. Estes ativos ficam guardados em carteiras (wallets), que têm um código que permite autenticar os seus movimentos. Este detalhe é muito importante, pois só o detentor da chave privada pode ter acesso a essa carteira. Ou seja, se a perder pode deixar de ter acesso de forma irreversível às criptomoedas.
Uma carteira é composta pelo dispositivo físico e o software que dá ao utilizador o acesso aos ativos digitais armazenados no sistema. Simplificando: são semelhantes a contas bancárias, mas com a diferença que é o dono da carteira (e não o banco) o responsável pela posse e segurança das criptomoedas. Na criação da carteira é gerada uma seed (que corresponde a uma sequência de 12 a 24 palavras), uma chave privada, uma chave pública e um endereço. A seed funciona como password de recuperação, que deve guardar de forma segura. É a chave privada que permite a movimentação da carteira e o endereço funciona como o número de conta bancária.
“Uma das enormes vantagens da utilização da tecnologia blockchain é a capacidade de sermos efetivamente os possuidores do ativo”, assinala Pedro Borges. “Assim, a regra de ouro é guardar as suas criptomoedas em carteiras das quais seja o possuidor da chave privada. Deixar moedas em carteiras de exchanges ou outros quaisquer terceiros que controlem a chave privada põe em causa a segurança dos seus ativos”, alerta o CEO da Criptoloja. “Obviamente que partilhar a sua chave privada com qualquer terceiro é algo que nunca deve ser feito, seja qual for o pretexto”, reforça.
Existem diversos tipos de carteiras, que é importante conhecer para escolher a que melhor corresponde às suas necessidades. As carteiras podem ser divididas em dois grandes grupos: as hot wallets (carteiras quentes) e as cold wallets (carteiras frias). A grande diferença é que as primeiras estão ligadas à Internet, enquanto as segundas estão desligadas da rede.
As hot wallets são as mais práticas e populares. Mas por necessitarem de Internet para autenticação são também as menos seguras, pois estão mais vulneráveis a hackers. Existem vários tipos de carteiras quentes:
- Carteiras Mobile (a chave fica guardada no seu telemóvel);
- Carteiras Web (a chave fica guardada no browser ou navegador);
- Carteiras Desktop (a chave fica guardada no seu computador).
Há vantagens e inconvenientes em todas elas. As carteiras Desktop são consideradas mais seguras, mas também estão vulneráveis a vírus e malwares. As carteiras Mobile são as mais práticas e úteis para uma utilização diária, mas além do risco de estarem ligadas à Internet, existe uma maior probabilidade de perder ou danificar o seu dispositivo móvel.
O volume e valor das criptomoedas que detém é fundamental para escolher a melhor carteira. Se for elevado, é aconselhável que opte por uma carteira fria, pois o nível de segurança é mais alto (embora o risco não seja nulo). As cold wallets não estão ligadas à Internet, ficando assim a salvo de serem pirateadas de forma remota.
Neste segmento das carteiras frias, existem três principais:
- Carteiras de hardware (funciona como uma pen drive);
- Carteiras de papel (Paper Wallets), onde a chave privada fica impressa num papel;
- Carteiras de cérebro (Brain Wallets), onde a seed é escolhida por si (frase secreta) em vez de ser gerada de forma aleatória.
Escolher a criptomoeda
Escolheu a corretora, abriu a conta e criou uma carteira. Agora tem de escolher em que criptomoeda (ou criptomoedas) quer investir. O leque de escolha é muito alargado, mas fique longe das moedas digitais mais desconhecidas, pois o risco é maior e a volatilidade habitualmente muito elevada.
Além da Bitcoin, existem aproximadamente mais 10 mil a 15 mil criptomoedas em circulação. Abaixo tem uma breve descrição das principais e mais movimentadas no mercado.
Bitcoin. É a moeda digital mais conhecida e também a mais antiga. Foi criada em 2008, na ressaca da crise financeira global, com a ambição de substituir o dinheiro tradicional. O objetivo parece muito distante, mas há cada vez mais instituições a aceitar a Bitcoin como forma de pagamento.
Bitcoin Cash. Criada em 2017, trata-se de uma versão da Bitcoin original cujo objetivo é permitir transações mais rápidas e com taxas mais reduzidas.
Ethereum. A segunda criptomoeda mais valiosa do mundo representa uma nova versão da original (Ether), que foi alvo de roubo por parte de um hacker em 2016. O objetivo inicial passava por remunerar os utilizadores da rede Ethereum.
XRP. O Ripple é um protocolo de pagamento, numa plataforma que suporta outros tokens e que também tem uma moeda nativa, a XRP. Ao contrário da Bitcoin e da Ethereum, esta criptomoeda não é gerada através de mineração. Tem como objetivo permitir pagamentos seguros e instantâneos da melhor forma possível.
Dogecoin. Criada em 2013, esta criptomoeda foi inspirada no meme doge, com a fotografia de um cão da raça Shiba Inu. É uma altcoin, ou seja, moeda alternativa, tal como a Bitcoin. Esta memecoin ganhou fulgor depois de ter sido apoiada por Elon Musk, o dono da Tesla.
Binance Coin. Várias “bolsas cripto” têm as suas próprias moedas, que são utilizadas pelos utilizadores. A Binance Coin é uma das mais conhecidas.
Tether. É uma Stablecoin, pois tem o seu valor ligado a uma moeda física, neste caso o dólar.
Quanto investir?
Agora só falta saber quanto investir. Dependerá sempre do seu perfil de risco, sendo que o mais seguro passará sempre por aplicar uma fatia reduzida da sua carteira nestes ativos.
Os especialistas aconselham que o peso das criptomoedas numa carteira diversificada não deve superar os 5%. Para definir o valor, tenha também em atenção o objetivo do investimento, em termos de prazos e finalidade. Apesar de as criptomoedas terem um valor unitário elevado, não existe um valor mínimo, pois pode sempre comprar frações.
Investir em criptomoedas sem as comprar
Se pode investir na bolsa sem comprar ações ou investir em matérias-primas sem comprar commodities, nas criptomoedas este processo também é possível. Existem Exchange Traded Funds (ETF), cujo desempenho está ligado à Bitcoin ou outras criptomoedas e também fundos de investimento especializados nesta indústria (investem em criptoativos ou empresas do setor).
Pode também comprar ações de empresas cotadas deste setor, quer sejam “bolsas cripto” (como a Coinbase e Binance), outras companhias ligadas a esta indústria ou empresas com balanços em que os criptoativos têm um peso elevado (a MicroStrategy é o caso mais emblemático).
“Não há boas alternativas ao investimento” em criptomoedas como a Bitcoin, garante Pedro Borges. “Nenhuma outra alternativa financeira assegura a posse do ativo e o total controlo sobre o mesmo. Assim, ao investir, por exemplo, num ETF do Bitcoin, só está a aproveitar a oscilação positiva ou negativa do preço, mas nunca possui realmente o ativo”, explica o CEO da Criptoloja.
“Se uma das maiores vantagens da tecnologia blockchain é garantir que ao possuirmos o ativo, por nós controlado na totalidade, ao nos expormos por qualquer outra via estamos imediatamente a abdicar de uma das maiores vantagens que esta tecnologia proporciona”, remata.
Resumindo, se quer investir no mundo das criptomoedas, deve:
1. Adquirir conhecimento;
2. Escolher uma corretora e abrir uma conta;
3. Criar uma carteira e escolher a(s) moeda(s);
4. Definir o montante que vai aplicar.
Tome nota
Tenha sempre em mente que a segurança é chave neste investimento e que o risco das criptomoedas é bastante elevado.
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