Recessão: como preparar-se financeiramente

As recessões económicas são, habitualmente, significado de dificuldades financeiras para as famílias. Mas é possível passar por estes períodos de contração económica de forma mais tranquila. Saiba como.
Artigo atualizado a 21-09-2022

Depois de uma recessão violenta causada pela pandemia, pode estar à espreita uma nova contração da economia na Europa pela conjugação de diversos fatores: crise energética, disrupções nas cadeias globais de abastecimento, elevada inflação e subida dos juros. Neste artigo explicamos o que significa o conceito de recessão e como enfrentá-la sem grandes turbulências financeiras.

O que é uma recessão e como identificá-la?

É a fase de declínio do ciclo económico. Tecnicamente é caracterizada por uma contração do produto interno bruto (PIB) durante dois trimestres, face ao trimestre anterior (variação em cadeia e em termos reais, ou seja, descontando a inflação).

Contudo, muitos economistas defendem que a definição de uma recessão não se pode resumir à análise do PIB. Segundo estes especialistas, uma recessão é caracterizada por uma contração da atividade económica num conjunto alargado de setores, durante um determinado período de tempo, com diminuição do PIB, aumento do desemprego, perda de rendimentos, quebra no consumo das famílias, redução dos lucros das empresas e retração no investimento.

Estagflação: a tempestade perfeita

Quando a recessão é acompanhada por uma inflação elevada, denomina-se estagflação. É uma fase do ciclo económico muito complicada (e rara), pois as famílias enfrentam, ao mesmo tempo, uma redução de rendimentos e um aumento do custo de vida. No caso das empresas, verifica-se uma diminuição das receitas e um aumento dos custos.

Que tipos de recessão existem?

Existem diversos tipos de recessão, consoante a gravidade e duração. Para classificá-los, os economistas recorrem, habitualmente, a letras, cuja forma se assemelha à evolução do PIB. Estas são as formas mais convencionais:

V

É a forma mais clássica de recessão e também a menos preocupante. A economia contrai durante um curto período, podendo ser de forma pronunciada, mas recupera rapidamente para o nível em que se encontrava anteriormente.

U

Neste caso, a recessão é mais longa, ou seja, a atividade económica contrai durante um período mais prolongado, mas quando começa a recuperar alcança rapidamente o nível anterior. É um tipo de recessão também muito frequente, habitualmente desencadeado por eventos específicos, em que as economias demoram mais tempo a ajustar-se e reagirem aos estímulos monetários (corte de taxas de juro) e orçamentais (descidas de impostos e outros apoios do Estado).

W

Neste tipo de recessão acontece uma falsa partida. A economia recupera rapidamente, mas a tendência não é sustentável, pelo que ela volta a contrair antes de encetar um movimento de recuperação, colocando o PIB em níveis anteriores à primeira contração.

L

É a mais grave das recessões, sendo muitas vezes classificada como depressão. A economia contrai de forma abrupta e não consegue recuperar num espaço temporal alargado. Esta evolução da economia é muitas vezes motivada por eventos extremos e que causam uma disrupção difícil superar.

Que fatores podem desencadear uma recessão?

As recessões podem ser causadas por diversos fatores, por exemplo: guerras, desastres naturais, inflação elevada, deflação, deterioração das contas públicas, crises financeiras, degradação acentuada da confiança dos agentes económicos, redução na procura e/ou oferta de um determinado conjunto de bens e/ou serviços.

Como se antecipa?

As recessões são fáceis de decretar, mas muito difíceis de prever. Ficou célebre a piada do Nobel Paul Samuelson de que os economistas conseguiram antecipar nove das últimas cinco recessões. Antecipam muitas recessões, mas poucas vezes acertam.

Existem, no entanto, sinais que podem sugerir uma inversão da atividade económica. É o caso dos indicadores de sentimento dos consumidores e empresários e dos níveis de procura de matérias-primas chave (como o cobre).

Outros indícios a que os economistas estão particularmente atentos para tentar antecipar uma inversão da atividade económica são os movimentos nos mercados, por exemplo, a inversão das taxas de juro de obrigações (taxas dos títulos de prazos mais curtos acima de prazos mais longos) e a evolução dos preços das ações e de outros ativos cotados.

Como estar preparado para uma recessão?

A melhor forma de ultrapassar uma recessão sem ver o seu nível de vida muito afetado é estar preparado para quando este evento acontecer. Tal como na história da cigarra e da formiga, é no verão que devem ser tomadas medidas para passar um inverno mais tranquilo. Ou seja, é em períodos de expansão económica que deve preparar-se financeiramente para enfrentar períodos de declínio económico. Mas durante a recessão também há alguns cuidados a ter. A saber:

1. Aumente as suas competências

Em períodos de recessão económica, verifica-se uma subida acentuada do desemprego. Por isso, a probabilidade de ficar sem emprego é maior. Para ultrapassar esta situação adversa com menor dificuldade em períodos de declínio económico é essencial ter um bom currículo. Nesse sentido, deve melhorar as suas competências profissionais nos períodos de crescimento económico, investindo em formações ou cursos com maior empregabilidade.

2. Mantenha o seu emprego

Em recessão não é boa ideia procurar um novo emprego. Nesta fase da atividade económica, as empresas tendem a oferecer salários mais modestos. Se for possível, deixe essa ambição para quando a economia estiver a recuperar. Em períodos de expansão económica há mais ofertas de emprego e as condições remuneratórias são mais favoráveis.

3. Elabore um orçamento familiar e avalie as despesas e receitas

Independentemente da fase do ciclo económico, elaborar um orçamento familiar é essencial para gerir o dinheiro de forma responsável e rigorosa. Esta ferramenta permite ter noção das despesas e receitas e, em função da sua evolução, adequar o estilo de vida e planear o futuro.

Em recessão, o orçamento familiar é ainda mais importante para monitorizar as saídas de dinheiro e identificar as despesas que podem ser reduzidas ou eliminadas. Caso não seja possível, será necessário encontrar uma fonte de rendimento adicional.

4. Crie um fundo de emergência

Um fundo de emergência tem por objetivo fazer face a imprevistos financeiros, por exemplo, uma quebra de rendimentos. Deve constituir esta “almofada financeira” em períodos de bonança. A maioria dos especialistas em finanças pessoais recomenda ter uma quantia que cubra, pelo menos, seis meses de despesas mensais.

O fundo de emergência deve estar aplicado num produto financeiro com elevada liquidez, ou seja, de fácil e rápido acesso e sem custos de resgate, pois pode ser necessário a qualquer momento. Deve igualmente garantir o capital investido e, se possível, proporcionar juros em linha com a inflação.

5. Não deixe de investir e poupar

Se tem capacidade financeira e conhecimento para investir no mercado de capitais, não deve vender tudo porque a economia está em recessão. No entanto, deve ajustar a sua carteira a esse período económico. Por exemplo, é recomendável optar por ativos mais defensivos, como ações de empresas mais imunes a uma contração, e/ou obrigações, pois é habitual os bancos centrais descerem as taxas de juro para estimular a economia.

Poupar é outro dos hábitos que deve manter em qualquer das fases do ciclo económico, sendo ainda mais recomendável quando a recessão está a bater à porta. Aplique as poupanças consoante o seu perfil de risco e, de preferência, com um objetivo de longo prazo.

6. Amortize dívidas

Em momentos de expansão económica, as taxas de juro estão habitualmente em níveis mais elevados, pelo que é a altura ideal para reduzir as suas dívidas. Se tem crédito à habitação, pessoal ou para outros fins, avalie se tem capacidade para amortizar parte (ou a totalidade) do valor em dívida. Assim, vai reduzir a sua prestação mensal, enfrentando uma situação financeira mais desafogada quando chegar a recessão. Se tem mais de um crédito, tente primeiro consolidá-los num só. Se não for possível, comece por amortizar os que têm um custo mais elevado.

7. Tenha atenção aos programas de apoio

Quando a economia está numa fase desfavorável, os governos e as instituições sociais aumentam o número de apoios, sobretudo às famílias mais carenciadas. Se estiver em dificuldades, não hesite em recorrer a estas ajudas. Pesquise os programas disponíveis e veja como pode ter acesso.

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