a carreira à poupança, nem sempre os frutos se colhem no imediato. Tempo e resiliência são condições essenciais para se atingirem os objetivos maiores, aqueles que podem ser a verdadeira fonte da satisfação pessoal. Conheça as histórias de Matilde, Susana, Alexandre, Pedro e outros testemunhos sobre a importância de esperar.


Os espaços carregam memórias emocionais – foi, por isso, com um misto de estranheza e de tristeza que, após a morte do marido, Matilde Guedes deixou de se sentir bem na casa onde o casal vivia, em Vila Real. “As minhas amigas perguntavam-me por que não vendia a casa e comprava outra. Foi nesse momento que percebi: disse-lhes que não, porque não era ali, em Trás-os-Montes, que queria morrer.”
Aos 64 anos, a enfermeira queria voltar ao sítio onde tinha sido mais feliz – um pedaço de terra vulcânico, insular, perdido no Atlântico, em tudo diferente do distrito montanhoso onde nasceu. “Sempre quis regressar ao Faial. O meu marido, que era chefe do serviço das Finanças, foi transferido para lá na década de 1990 e vivemos lá durante 12 anos.”
Foi precisamente este o tempo que teve de esperar pelo desejado regresso. “Sempre que podia, passava lá férias.” Afinal, no Faial esperavam-na amigos e conhecidos que não deixaram de fazer parte da sua vida. “Era como se nunca tivesse saído de lá”, sentia, sempre que regressava. Um vínculo que se intensificava a cada viagem e que reafirmava o compromisso em regressar.
Uma espera lenta e cheia de desafios, uma aposta a longo prazo que acabou por dar frutos antecipados. Com algumas tentativas frustradas, Matilde conseguiu mudar-se para a ilha antes da reforma, a meta temporal que, inicialmente, havia estabelecido. Em 2022, foi transferida para o Hospital da Horta, onde foi recebida pelos antigos colegas de trabalho. Pouco depois, encontrou a casa dos sonhos: uma construção pequena, erguida em pedra preta típica da ilha vizinha, a do Pico, com teto e portas de madeira. “À volta, tenho um grande jardim.”
E quem acha que a vida na pequena ilha é monótona, engana-se. Basta observar a agenda dos tempos livres da enfermeira: aulas de ioga, zumba e chamarrita (dança tradicional açoriana). Em breve, um novo desafio – os treinos que lhe permitirão alcançar uma nova meta: “Quero aprender a nadar.”
Serão os projetos de longo prazo um atalho para a felicidade? Para Matilde Guedes, sim. Saber esperar, investindo em decisões ponderadas e pacientes, traz benefícios ao longo do tempo. A Experiência Marshmallow, conduzida por Walter Mischel, na década de 1960, mostrou que as crianças que conseguiram adiar a gratificação – esperando para ganharem uma recompensa maior em vez de optarem por uma menor e imediata – tendiam a ter melhores resultados ao longo da vida em termos de sucesso académico, profissional e até mesmo bem-estar emocional. Mischel, psicólogo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, colocava uma guloseima à frente de crianças de 4 anos, dando-lhes duas hipóteses: ou a comiam imediatamente ou esperavam 15 minutos e podiam comer duas. No decorrer dos anos seguintes, Mischel observou que as crianças que conseguiam adiar a recompensa desenvolviam um perfil académico superior em comparação com as que cediam à vontade imediata. O estudo reforça a ideia de que projetos de longo prazo podem ser um caminho para uma vida mais satisfatória.
POUPANÇA COMPLEMENTAR
Os melhores resultados vêm com o longo prazo
Carreira a longo prazo: ser um escritor famoso
Não basta ter talento. Vingar no universo artístico – um território escorregadio, repleto de incertezas, rejeições e exigências – requer uma dose considerável de resiliência. Da pintura à música, a história da arte está recheada de exemplos que mostram como a espera pelo sucesso tende a ser longa.
Escritores famosos há muitos, mas no Instagram apenas um – e chama-se Alexandre Couto. O nome do perfil surgiu antes do reconhecimento oficial, dado que descortina o perfil determinado e ousado deste autor, que há dez anos assumiu o compromisso de vingar no universo literário português. “Tenho a impressão de que uma ambição artística megalómana pode dar imenso sentido à vida e não me arrependo da década e meia em que já enterrei a minha.”
Sobretudo agora que já é um autor publicado. Mas já lá vamos. Com 35 anos, não esperou que a sorte viesse até ele – era preciso correr atrás dela. Ao longo de mais de dez anos, foi trilhando caminho de uma maneira “muito avessa às regras”, lançando-se de forma independente com a publicação de Nova Lisboa (2019), um “queixume contra a gentrificação”, e A Ponta de Um Corno (2022), coletânea de 13 contos inspirados nos seus “traumas de Setúbal. “Acredito que a minha literatura nunca poderia ser feita só por uma editora ou um plano comercial. Precisava de ser o meu próprio editor”, afirma. A abordagem deu frutos: os livros geraram alguma atenção mediática e, discreta e gradualmente, puseram Alexandre no mapa.
Assim descrito parece que foi fácil, mas não: Alexandre Couto tem conjugado a escrita com uma carreira paralela (e exigente) na indústria da publicidade. Já sentiu uma “enorme frustração”, mas hoje reconhece que esta rotina de homem duplicado lhe tem servido para expandir a noção de mundo. “Acredito que as experiências no mundo corporativo me permitem conhecer histórias interessantes, assim como muitas personalidades diferentes.”
Dez anos depois, o grande salto: em 2024 torna-se um dos autores publicados pela Suma de Letras (chancela da Penguin Random House) com Sinais de Fumo, romance inspirado nas suas vivências, no Viso, bairro sadino onde cresceu, um ecossistema “fantástico onde o património oral tem um sotaque próprio e a sinceridade é parte presente do código de valores comunitário”.
Na data de lançamento do seu romance corriam duas sensações em paralelo: o entusiasmo por ter concretizado o seu sonho e a consciência de que aquele não era o fim, antes o princípio. “Tive a clareza de que o meu percurso tinha acabado de começar. Os anos que demorei a publicar não me levaram à meta, nem ao fim da corrida, eram apenas o começo de uma aventura épica que me apetece imenso continuar a percorrer.”
Tanto assim é que já está a trabalhar num segundo livro, cuja narrativa remeterá, precisamente, para a envergadura emocional necessária para vingar no mundo artístico: “Estou fascinado pela resiliência que alguns dos meus pares continuam a demonstrar ano após ano –revejo-me nisso e tenho vontade de os celebrar.”
Desta resiliência fazem sempre parte os momentos de desencorajamento. “Tive vontade de desistir quando terminei o meu primeiro romance. Era horrível, muito pior do que alguma vez imaginei que pudesse ser”, lembra. “Foi muito difícil ter trabalhado vários anos nele para chegar ao resultado final e ser brutalmente distante daquilo que tinha planeado, idealizado e escrito.”
O passo seguinte foi levantar-se e recomeçar – não se deita o investimento de uma década no lixo. “Felizmente, tinha o peso do meu bairro nas costas e a certeza de que ninguém ia elevar aquelas pessoas a ficção literária se desistisse. Acho que a resiliência é um músculo e também se treina. No meu caso é tão importante como ombros e abdominais.”
“Os anos que demorei a publicar não me levaram à meta, nem ao fim da corrida, eram apenas o começo de uma aventura épica”
Saúde a longo prazo: chegar bem à velhice
O Harvard Study of Adult Development é um dos mais extensos e abrangentes estudos sobre o envelhecimento humano. Desde 1938 que acompanha a vida de centenas de adultos com o objetivo de compreender os fatores que contribuem para uma vida mais feliz e saudável. Entre as principais conclusões destaca-se a de que os indivíduos que tomam decisões mais cuidadosas sobre a saúde, como evitar comportamentos de risco, praticar exercício regularmente e manter uma alimentação equilibrada, têm mais hipóteses de viver uma vida longa e saudável.
A história da Susana exemplifica esta ideia. “A saúde sempre foi um dos meus maiores investimentos”, afirma. Assim se entende que, aos 51 anos, mantenha a tenacidade física para estreias desportivas exigentes: sem experiência prévia em corrida, está a preparar-se para percorrer 21,1 quilómetros. “Comecei a treinar no ginásio aos 47 anos. Este ano, a minha filha inscreveu-nos na meia-maratona”, conta. Treinam três vezes por semana – nos outros dias, Susana aproveita para fazer exercícios de reforço muscular no ginásio.
Criada em Santa Maria da Feira, numa aldeia onde a mobilidade era limitada pela falta de transporte, a secretária soube tirar partido das circunstâncias em que cresceu. “Desde pequena que faço grandes caminhadas. Ia a pé para todo o lado.”
Foi também em casa que aprendeu a comer bem. Da infância recorda a comida simples, mas sempre nutritiva. “Não havia bolos nem muitos doces em casa. A nossa dieta sempre foi muito equilibrada.” Tem, até hoje, preferência por pratos coloridos, com muitos legumes e fruta, sem alinhar em dietas e modas da alimentação. “Como o que sei que me faz bem e de tudo, com moderação, e foi isso que também ensinei às minhas filhas”, revela. “Nunca tivemos cereais de pacote, com açúcar refinados”, exemplifica. Não impõe ou proíbe – incentiva e dá o exemplo. É inspiração.
“Quero estar bem, quero chegar à velhice de uma forma saudável para não lhes dar trabalho”, afirma. Um investimento que permite colher frutos na forma de longevidade, bem-estar e independência.
Pedro Cruz: o central que desafiou a idade
Aos 36 anos, o andebolista Pedro Cruz recebeu um telefonema inesperado. “O Magnus Andersson, treinador do FC Porto, convidou-me para fazer parte do plantel”, recorda à revista Montepio. Estávamos em 2021 e Pedro Cruz, há 12 anos no Águas Santas, era há muito uma figura maior do andebol português. Internacional português em 2014, tinha sido melhor marcador do campeonato nove vezes e acumulara mais de 3 000 golos na competição. Ainda assim, os anos passavam e, tirando uma breve passagem pelo Sporting, o andebolista mantinha-se no clube do concelho da Maia.
“Apesar de me sentir muito bem fisicamente e de continuar a render, que era o mais importante, tinha consciência que não era fácil, com aquela idade, entrar numa equipa campeã nacional e jogar a Liga dos Campeões.”
Na altura, o FC Porto de Magnus Andersson dominava o andebol português e tinha o esqueleto-base da seleção. O técnico sueco fez do modelo 7×6 uma referência mundial, causando surpresa na Europa e levando outros treinadores, e outros clubes, a seguirem-lhe as ideias. Pedro Cruz encaixou que nem uma luva numa equipa já vitoriosa. “Para um adepto, acredito que não tivesse sido fácil encarar a contratação de um jogador com a minha idade. Houve muita curiosidade em perceber como iria encaixar e resultar numa equipa como a do FC Porto”, afirma. Os resultados aprovaram a escolha de Andersson: em dois anos, Pedro Cruz marcou 294 golos pelo FC Porto, sagrando-se bicampeão nacional, e foi uma peça importante da equipa.
“Foram dois anos inesquecíveis. Lembro-me perfeitamente de entrar no balneário pela primeira vez e houve um respeito mútuo. Foi muito fácil entrar numa equipa com tanta qualidade”, explica. Para a história ficam os 16 golos num único jogo, curiosamente o jogo do título contra o Sporting (31 vs 30 para o FC Porto). “Foi um jogo muito bom. Praticamente ganhámos o campeonato ali.”
Aos 40 anos, Pedro Cruz já pensa no final da carreira. Qualquer que seja o seu futuro, mantém a mesma disciplina que o viu chegar aqui. “É importante ter objetivos muito bem definidos. Hoje, as coisas são muito rápidas, é tudo muito simples, prático e, ao mesmo tempo, descartável”, reforça. E são os mais jovens que têm menos paciência para esperar. “A facilidade com que os miúdos, hoje, desistem de tudo, é preocupante. Não falo só no desporto, mas em tudo no geral. Desistem de todas as coisas porque têm mil e uma ofertas logo a seguir. E acabam por não conseguir concentrar-se nem traçar objetivos.”
*Texto de Carlos Martinho

Poupar no longo prazo: o tempo a nosso favor
Investir no futuro também significa cultivar o hábito de poupar – uma prática que faz bem à carteira e à saúde. Foi isso que concluiu um relatório do Centro de Pesquisa em Finanças Pessoais da Universidade de Bristol, em Inglaterra: economizar regularmente não só garante os recursos necessários para lidar com imprevistos, como aumenta a satisfação com a vida. Este sentimento de estabilidade é benéfico para a saúde: diminui o stress e aumenta a sensação de bem-estar. Além disso, a poupança gera uma maior sensação de controlo sobre o futuro, o que impacta positivamente a saúde mental e física.
“Através da poupança de longo prazo os associados [Montepio] podem preparar o futuro, estando mais aptos a dar resposta a necessidades que ocorrem noutras fases do ciclo de vida, mas também a fazer face a imprevisibilidades”, adianta Ana Souto, responsável pela Direção de Oferta Mutualista do Montepio Associação Mutualista.
Entre as principais preocupações, acrescenta, estão o futuro dos filhos ou netos, o aumento do custo de vida, a habitação, a saúde e a longevidade – aquelas para as quais o Montepio Associação Mutualista “procura construir uma proposta de valor”.
“Faz parte da missão do Montepio Associação Mutualista prestar benefícios de segurança social aos seus associados, famílias e beneficiários. Esses benefícios são concretizados em modalidades mutualistas, nomeadamente de poupança, através das quais é possível constituir e valorizar uma poupança”, explica Ana Souto.
As modalidades mutualistas ajudam os associados a construir poupança de longo prazo e a garantir proteção financeira. A modalidade Montepio Capital Certo, por exemplo, permite a criação de poupanças a prazos fixos de três ou cinco anos, com capitalização anual; já o Montepio Poupança Complementar acompanha a vida do subscritor com entregas periódicas ou pontuais, sempre com a possibilidade de ajustes conforme a disponibilidade financeira. “Esta modalidade prevê, ainda, a possibilidade de subscrição de um capital de garantia, que protege o subscritor – e os seus beneficiários – em caso de morte ou invalidez (ITP – Invalidez Total e Permanente) por acidente, assegurando o pagamento da diferença entre o capital de garantia subscrito e o valor do capital acumulado, sempre que o montante deste último seja inferior.”
E para quem se preocupa com o fim do ciclo profissional, a modalidade Montepio Poupança Reforma oferece uma alternativa aos planos de poupança reforma (PPR), com a mesma vantagem fiscal mas maior flexibilidade.
Além de poupança, as modalidades mutualistas reforçam a proteção contra imprevistos. “As modalidades de proteção asseguram que o subscritor (ou os seus beneficiários) estão protegidos em caso de morte ou invalidez”, explica Ana Souto. Esta proteção existe, também, nas chamadas modalidades “mistas”, que unem poupança e proteção e asseguram que, em caso de morte ou invalidez do subscritor, este e os seus beneficiários recebem o capital subscrito.
Hoje, mais de 600 mil portugueses subscrevem modalidades mutualistas de poupança e de proteção e têm acesso a diversas vantagens por pertencerem ao Montepio Associação Mutualista: um plano de saúde sem idade limite nem qualquer tipo de exclusão, descontos em mais de 1 600 parceiros e condições mais vantajosas nas empresas do Grupo Montepio. O futuro agradece.
“A saúde sempre foi um dos meus maiores investimentos. Comecei a treinar no ginásio aos 47 anos e, este ano, a minha filha inscreveu-nos na meia-maratona”
Começar tarde, atingir o topo
A resiliência é uma das características de quem pensa a longo prazo. Conheça 5 personalidades que tiveram de esperar para que o seu momento de glória chegasse.
Susan Boyle
Levava uma vida simples na Escócia quando foi descoberta, aos 47 anos, na edição britânica do programa de televisão Got Talent. Desde então, lançou sete álbuns e vendeu mais de 25 milhões de cópias.
Haruki Murakami
O escritor japonês é também reconhecido pelo seu investimento em saúde através do desporto: começou a correr aos 33 anos e hoje, com 75, continua a participar em corridas de longas distâncias. Em 2007, narrou as suas aventuras na estrada na obra Auto-Retrato do Escritor Enquanto Corredor de Fundo.
Morgan Freeman
Com um currículo que acumula alguns dos mais icónicos papéis do cinema (com Sete Pecados Mortais ou Prisioneiros de Shawshank à cabeça), foi só aos 50 anos que o superator alcançou a fama internacional.
Chris Gardner
Passou de sem-abrigo a milionário e inspirou o filme Em Busca da Felicidade. A trajetória do investidor e autor, fundador da corretora Gardner Rich & Co, reflete a importância de não desistir, independentemente das dificuldades.
Rei Carlos III
Durante mais de sete décadas, foi o herdeiro ao trono de Inglaterra. Coroou-se aos 73 anos, depois da morte de Isabel II, a monarca com o reinado mais longo da história britânica e o segundo mais longo do mundo.